quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Incertezas com pacote afetam ações das elétricas


À medida que se aproxima o anúncio das medidas que estão sendo preparadas pela presidente Dilma para o setor elétrico, crescem os temores no mercado de que o governo será mais rígido do que o previsto com as concessionárias. As medidas serão divulgadas em duas etapas.
Hoje, a presidente deve anunciar a redução da carga tributária incidente sobre a conta de luz. O pacote envolvendo a renovação das concessões que expiram a partir de 2015 será anunciado na terça-feira em cerimônia com Dilma e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O convite para o evento foi enviado pelo Planalto a representantes do setor elétrico nesta semana.
Nos últimos dias, as incertezas em torno das medidas causaram nervosismo no mercado. A empresa mais afetada foi a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), maior concessionária privada do setor de transmissão de energia elétrica do Brasil. Cerca de 80% das concessões de transmissão da empresa expiram em 2015.
O valor de mercado da companhia, que é controlada pela estatal colombiana ISA, fechou ontem em R$ 7,2 bilhões. Em relação ao dia 31 de agosto, quando a Cteep valia na bolsa R$ 9,3 bilhões, a queda foi de 23%.
A transmissora sempre foi uma boa pagadora de dividendos, mas alguns analistas acreditam que sua receita poderá sofrer uma redução de até 50% como parte das exigências feitas pelo governo para renovar suas concessões. Se a previsão se concretizar, a companhia terá de ser mais conservadora na distribuição de lucros. No início desta semana, o analista do BTG Pactual, Antonio Junqueira, reduziu o preço alvo para as ações da Cteep de R$ 50 para R$ 30.
As ações da companhia caíram mais um pouco, 0,5% no pregão de ontem, quando outras elétricas já mostraram uma recuperação. As ações da Cesp, geradora de energia controlada pelo Estado de São Paulo, subiram 3,5%, enquanto os papéis da Cemig, controlada pelo Estado de Minas, valorizaram 3,2%. Ainda assim, as ações das duas geradoras acumulam quedas de 10% e 5,6%, respectivamente, desde o dia 30 de agosto.
Começaram a circular no mercado rumores de que o governo poderia usar os fundos acumulados na Reserva Geral de Reversão (RGR), um dos encargos cobrados na conta luz, para pagar as concessionárias por investimentos não amortizados. Assim, ele poderia baixar as tarifas para um patamar mínimo, que cobriria apenas os custos operacionais das geradoras e transmissoras. Esse modelo, se implementado, seria novo e fugiria do que os investidores vinham imaginando até o momento, disse um analista.
Em entrevista concedida na terça-feira, durante encontro com investidores em São Paulo, o diretor financeiro da Eletrobras, Armando Casado, afirmou que existem R$ 13 bilhões no fundo da RGR sob administração da estatal. Outros R$ 7 bilhões estão "na rua", emprestados para o mercado, segundo ele.
Na avaliação de um executivo, os recursos totais da RGR não seriam suficientes para pagar os investimentos realizados por todas as concessionárias. O encargo foi criado em 1957 com o objetivo de indenizar as empresas, ao término dos contratos de concessão, por investimentos não amortizados. É esperado que o governo agora elimine essa cobrança. Além dos rumores sobre a RGR, a publicação na semana passada da Medida Provisória 577, que permitiu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) intervir nas concessionárias de energia, ajudou a abalar o ânimo dos investidores. (Valor Econômico)
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