quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Consumo maior de energia custou R$ 6,5 bi

O aumento do consumo de eletricidade por consumidores residenciais e comerciais, mostrado ontem em reportagem do GLOBO, custou R$ 6,5 bilhões ao sistema elétrico apenas nos últimos cinco meses, calcula o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana. Isso ocorreu devido à necessidade de acionamento total das usinas térmicas disponíveis por conta da escassez de água nos reservatórios das hidrelétricas.

Boa parte das térmicas, de custo mais elevado e mais poluentes, não precisaria ter sido ligada entre maio e setembro, se houvesse alguma ação do governo para estimular o consumo mais consciente de energia, afirma Santana.

Esse custo da geração térmica teria sido evitado, se não tivesse aumentado o consumo nesses últimos cinco meses.

FATIA DE RESIDÊNCIAS SUBIU
Santana, que atualmente é consultor independente, utilizou como parâmetro para chegar ao custo adicional de R$ 6,5 bilhões em geração de energia o aumento do consumo, de 3.000 Megawatts (Mw) médios, ocorrido no último ano nas categorias residencial e comercial e o preço da energia no mercado de curto prazo (PLD) entre maio e setembro, ao redor de R$ 600 por MWh, também pressionado pelo uso intensivo das usinas térmicas.

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em agosto, a participação das residências e do comércio na carga total do país era de 46,78%, nove pontos percentuais acima da fatia da indústria, que correspondia a 37,77%. Em 2010, a fatia do consumo residencial e do comercial correspondia a 42,43% do total, inferior à parcela da indústria, que respondia por 43,18% do consumo.

O consumo residencial foi impulsionado por estímulos do governo. Sua fatia do consumo total do país passou de 25,79% em 2010 para 27,95% em agosto deste ano. No mesmo período, o consumo do comércio avançou de 16,97% para 18,83%, estimulado pelo aumento de vendas.

CONSUMO DEVE CRESCER 5,7%
No caso das famílias, os ganhos de renda e o maior acesso a eletrodomésticos, combinados com recordes de calor, contribuíram para elevar o consumo de energia. Além disso, ao editar a Medida Provisória (MP) 579, de 2012, que reduziu em 20% as contas de luz residenciais a partir do início de 2013, o governo também contribuiu para estimular o consumo residencial.

O consultor calcula que uma diminuição de cerca de 5% da demanda de energia neste ano dos consumidores residenciais e do comércio poderia ter reduzido em mais da metade o custo adicional do sistema com a geração de energia térmica e a compra de energia no mercado de curto prazo pelas distribuidoras. Esses custos exigiram aportes bilionários do Tesouro Nacional e levaram o governo a intermediar empréstimos de R$ 17,8 bilhões das distribuidoras junto ao setor financeiro, em valores que serão pagos pelos consumidores em até cinco anos.

Em seu último boletim, referente ao mês do agosto, a EPE previa um aumento do consumo de energia pelos clientes residenciais em 5,7% neste ano. A previsão para o setor comercial é de continuidade de um crescimento moderado. (O Globo)
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