quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Risco de faltar luz supera o teto tolerável

O risco de haver um desabastecimento de energia elétrica no país ultrapassou, pela primeira vez nos últimos anos, o limite prudencial de 5% estabelecido pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética).

Segundo o Ministério de Minas e Energia, esse nível está em 7,3% para Sudeste e Centro-Oeste e em 1,2% para o Nordeste.

No mês passado, as previsões para esse risco eram de 4,9% para Sudeste/Centro-Oeste e 1,2% no Nordeste.

O cálculo leva em conta o volume de chuvas atual e a série histórica.

De acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o volume de água que desceu os rios e atingiu os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste em janeiro foi o menor em 84 anos --o levantamento teve início em 1931.

A chamada energia afluente, que é a água das chuvas que atingem os rios que desembocam nos reservatórios das usinas, em janeiro, foi 38,04% da média histórica.

Em 1953, até então o pior janeiro da história, a energia afluente havia sido de 44,60% da média histórica.

Considerado a caixa-d"água do sistema elétrico, o Sudeste é a região que possui a maior quantidade de reservatórios do país.

CÁLCULO DIFERENTE - Pela primeira vez, a pasta de Minas e Energia também divulgou um cálculo diferente para medir o risco de desabastecimento. Este cálculo considera o uso total do parque térmico ao longo do ano.

Nesse cenário, a chance de faltar energia cairia para 6,1% no Sudeste e Centro-Oeste e para risco zero no Nordeste.

O ministério não esclareceu o motivo de ter apresentado, neste momento, os números novos. Também não explicou se esse uso "pleno" é possível, uma vez que as térmicas precisam fazer pausas programas para manutenção, o que reduziria a quantidade de energia no sistema.

O governo ainda defende que o sistema elétrico continua "estruturalmente equilibrado" e que "há sobras" de energia para atender a demanda atual dos usuários.

Ainda que o risco tenha aumentado e ultrapassado o limite, o ministério informou que outras avaliações de desempenho do sistema não indicam "no momento" insuficiência de suprimento energético deste ano.

EXPLICAÇÕES - Em novembro do ano passado, o governo tentou minimizar os efeitos do anúncio de que esse risco havia chegado a 5%, limite tolerado.

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, chegou a dizer que a "tolerância de 5% não é igual ao IPCA [índice que mede a inflação]".

Na mesma ocasião, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, comentou que, "se der 5,2% ou 6% de risco, isso não significa que haverá racionamento". Ele não comentou o que ocorreria quando o risco superasse esses percentuais.

O documento que fixa em 5% o limite para esse risco foi assinado em 2004 por Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia. O texto diz taxativamente que o risco de insuficiência da oferta de energia "não poderá exceder a 5% em cada um dos subsistemas que o compõem".

Desta vez, nenhum porta-voz se pronunciou sobre os possíveis efeitos do aumento desse percentual. (Folha de S.Paulo)
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