quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Concentração de empréstimos e racionamento aumentam percepção de risco do setor

A concentração de um grande volume de recursos no segmento de distribuição e o fantasma do racionamento de energia aumentaram a percepção de risco do setor elétrico e tornaram mais difícil a negociação de novo empréstimo com os bancos, ou até mesmo o alongamento dos prazos dos financiamentos contratados no ano passado. A avaliação é do coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Nivalde de Castro, que acredita na possibilidade do crédito adicional de R$ 2,5 bilhões, mas põe em dúvida a prorrogação de dois para quatro anos do pagamento da dívida de R$ 17,8 bilhões que as empresas têm com bancos públicos e privados. “Este é o maior empréstimo de capital de giro da historia da República brasileira”, afirma Castro em entrevista à Agência CanalEnergia. Como os bancos privados estão com um pé atrás em relação ao próprio nível de exposição ao setor e ao comprometimento financeiro das empresas, possivelmente quem vai assumir a responsabilidade pela liberação de recursos adicionais serão os bancos públicos, alerta o professor.

A dificuldade é ainda maior porque cada instituição financeira tem suas próprias normas para concessão de crédito. O novo financiamento em negociação será destinado à liquidação das operações das distribuidoras no curto prazo em novembro e dezembro do ano passado.

A notícia de que o governo estuda propor aos bancos o alongamento do perfil da operações contratadas no ano passado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica foi confirmada pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. A renegociação do prazo de pagamento dos quase R$ 18 bilhões negociados com consórcio de bancos públicos e privados é considerada pelo governo como uma forma de reduzir o impacto dos custos da energia sobre a inflação.

O dinheiro foi usado no ano passado para a cobertura do aumento dos gastos das distribuidoras com compra de energia, seja pela exposição no mercado de curto prazo, seja pela variação dos custos dos contratos com as termelétricas. No primeiro empréstimo, de R$ 11,2 bilhões, a remuneração foi a variação dos Certificados de Depósito Interbancário mais 1,9% ao ano. No segundo, de R$ 6,6 bilhões, o custo aumentou para CDI mais 2,35% ao ano.

Para o coordenador do Gesel, o problema maior do ponto de vista da crise financeira é qual seria o impacto de um eventual racionamento de energia para caixa das empresas. “Racionamento significa dizer receita baixa”, observa. Em relação à capacidade de pagamento do consumidor, Castro pondera que existe alguma dúvida, mas o nível real de risco não é tão elevado, porque a renda da população cresceu. “Pode aumentar a inadimplência, mas não no nível de 40% [do faturamento das distribuidoras]“, acredita. O professor admite que o governo errou ao apostar que todas as geradoras iam aderir às regras definidas pela Medida Provisória 579 para a prorrogação das concessões que venceriam até 2017. E também ao forçar a renovação antecipada dessas concessões.

Ele aponta, porém, a crise hidrológica como causa central dos problemas financeiros do setor. E argumenta que se tivesse chovido dentro dos padrões nos últimos três anos, com o Preço de Liquidação das Diferenças a R$ 16/MWh nada teria acontecido, porque as coisas funcionariam com a inclusão da energia das usinas renovadas no sistema de cotas. Da mesma forma, as usinas termelétricas deveriam ter começado a gerar com maior intensidade em setembro, e não em outubro de 2012, para poupar os reservatórios. (Agência Canal Energia)
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