sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Projeções de racionamento provocam “pânico”, diz ONS

Hermes Chipp, diretor do ONS: projeções de racionamento provocam “panico” O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) criticou projeções divulgadas por analistas sobre o risco racionamento de energia elétrica ano que vem no país.

O órgão reiterou que qualquer avaliação feita neste momento é precoce e “provoca pânico” na população. O ONS prevê que o período chuvoso, que começou no mês passado e deve se prolongar até meados de abril é que vai definir as condições de suprimento da demanda em 2015. O mercado, em contrapartida, classificou como “otimista” a base das projeções do órgão. Recentemente, a hidrologia desfavorável no início da atual temporada de chuvas reacendeu a polêmica em torno da necessidade de racionamento de energia.

Uma nova rodada de informes que circularam no mercado financeiro na semana passada viu como altas as chances de medidas para forçar redução do consumo se não houver rápida melhoria no nível dos reservatórios. Cinco bancos – J.P. Morgan, Itaú Unibanco, Credit Suisse, BTG Pactual e UBS – divulgaram relatórios com alertas aos clientes sobre a situação do abastecimento de energia.

O diretor-geral ONS, Hermes Chipp, no entanto, reiterou que não existe a possibilidade de racionamento de energia no horizonte e que, se houvesse tal medida em 2015, ela não seria anunciada no começo do ano. Ele ainda comparou o cenário atual com o racionamento de 2001, quando o anúncio foi feito no período seco do calendário dos meteorologistas. “Desistam de anúncio em período úmido. Ele só será feito no meio do ano, se o operador ver que não há recurso para o abastecimento até novembro, quando recomeçam as chuvas. Não adianta ficar passando pânico pelo jornal”, disse durante evento sobre o tema realizado em São Paulo. Os modelos utilizados e o tipo dos cálculos sobre o risco de racionamento são baseados em cenários voláteis e por isso não conseguem prever o futuro com algum grau de confiabilidade, na visão de Hermes Chipp. “Não tem sentido consultor fazer cálculo de risco. Ele olha para trás, pega o cenário dos seis meses anteriores, e coloca no modelo. Isso não se faz e, se for feito, não deveria ser divulgado”, afirmou.

O diretor-geral do ONS disse que esses cenários hipotéticos não levam em conta a atuação do órgão, que neste ano, por exemplo, diminuiu ao longo dos últimos meses a vazão de bacias de rios que compõem o sistema hidrelétrico para retardar a diminuição do nível dágua das represas. Comparando o cenário atual com o que ocorreria caso não houvesse a intervenção do operador, em Furnas, que em outubro estava com 10% de armazenamento máximo, o nível “estaria próximo de zero.” Em Três Marias estaria em 6,4%, ao passo que em outubro foi verificado 13% de armazenamento. A distância maior está na bacia do Paranaíba, que ficou em 15,9%, mas poderia ter baixado para 2%. Assim, o acionamento de usinas termelétricas, mais caras e mais poluentes, será reavaliado em abril pelo ONS. Caso o índice pluviométrico de chuvas entre novembro e abril fique acima de 70% da média histórica e o nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste, o maior do país, fique acima de 33%, as termelétricas podem começar a ser desativadas.

O número de usinas que podem parar de operar vai depender do quanto os índices de chuva e dos reservatórios estiverem acima do mínimo traçado pelo ONS. “Temos uma postura cautelosa. Só vamos desligar as térmicas se estivermos em um nível confortável. Não dá para saber isso antes das chuvas”, afirmou o diretor-geral do ONS. A estimativa de demanda por energia elétrica deverá ser menor do que o esperado, o que ajuda a diminuir sensivelmente as chances de racionamento, nos cálculos da LCA Consultores. O consumo do país deve crescer 2,5% em 2015, abaixo do nível projetado pelo ONS, de aumento de 3,2% do consumo no próximo ano. Caso a projeção da LCA se concretize, o risco de racionamento de energia cai para 1%, de acordo com Braulio Borges, economista-chefe consultoria. Outro fator de depressão ao consumo está nos recentes aumentos nos preços da tarifa elétrica. Os usos comercial e residencial, que puxaram a alta na demanda total nos últimos anos, tiveram aumento médio de 35% na conta no acumulado entre 2013 e 2014. “Novos aumentos podem ter o efeito de inibir o consumo”, afirmou o economista-chefe da LCA. (Valor Online)
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