sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Presidente da AES critica falta de planejamento para o setor

O presidente do grupo AES Brasil, Britaldo Soares, quebrou ontem sua conhecida discrição e expressou a insatisfação com o desdobramento das decisões adotadas pelo governo federal para o setor elétrico nos últimos dois anos. Durante evento do setor, o executivo ressaltou que as companhias de energia listadas em bolsa têm passado por dificuldades decorrentes das turbulências enfrentadas neste último biênio. O executivo mencionou o desafio das empresas de obter financiamentos em condições favoráveis.

Soares considera que faltou planejamento nas medidas tomadas em 2012, quando foi editada a Medida Provisória 579. A iniciativa fez parte de um plano do governo federal de promover o corte 20% nas contas de luz por meio da renovação antecipadas das concessões do setor elétrico. Para o executivo, houve uma aposta no cenário de hidrologia favorável que não se confirmou após o anúncio do plano de renovação das concessões.

Na visão do executivo, algumas soluções de longo prazo que poderiam melhorar as perspectivas para o setor não estão sendo tomadas. Soares citou iniciativas que poderiam reduzir o custo de operação das usinas térmicas. “Há um consenso sobre este ponto. Nós não conseguimos enxergar a luz no fim do túnel de uma politica de gás para geração de térmicas na base”, afirmou, ao se referir ao modo de operação permanente dessas usinas no sistema.

Para o presidente da AES Brasil, que controla a maior distribuidora de energia do país, a Eletropaulo, a proposta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de impor limites para o preço da energia negociada no mercado de curto prazo, o chamado Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), representa um “band-aid” para a ferida aberta no setor. “A gente está bem ferido pelo custo do PLD em 2013 e 2014. Não aguentamos outro ‘ferimento’ em 2015″, afirmou durante o 14º Encontro dos Associados da Apine, entidade que reúne os produtores independentes de energia elétrica. O grupo controla também a geradora AES Tietê.

O executivo disse que, se os problemas de 2014 se repetirem no próximo ano, a situação das distribuidoras pode se tornar insustentável. As empresas, segundo ele, preveem uma situação possivelmente “crítica” no início do próximo ano. “É preciso criar o mínimo de estabilidade em todos os segmentos para cruzar o período mais crítico, que talvez seja o próximo verão”, afirmou.

Com a restrição de picos elevados do preço de compra do insumo à vista, o governo espera reduzir a exposição financeira das distribuidoras quando essas tiverem que recorrer à compra de energia no mercado spot a fim de atender a demanda dos consumidores. (Valor Econômico)
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