quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Caminhos alternativos para o suprimento energético

A estiagem vivida em diferentes regiões brasileiras e a consequente redução do volume de água observada nos reservatórios de grandes usinas hidrelétricas reforçam a necessidade de alternativas em geração de energia que possam atuar de forma coordenada e complementar ao parque de geração existente. Hoje, 71% da capacidade teórica de geração energética no Brasil provem de usinas hidrelétricas. Em um país com dimensões continentais como o nosso, tal cenário é preocupante. Estima-se que, em seis anos, a demanda global por energia aumentará em 35%. Para 2050, a projeção da EPE é de crescimento na ordem de 300% em relação ao consumo atual. Em função disso, é cada vez mais comum que países invistam em projetos de geração distribuída, um modelo em que a energia é produzida no próprio ponto de uso ou próximo a ele. A modalidade representa hoje cerca de 39% do montante de geração de energia adicionada em termos globais e é amplamente utilizada em outros países como alternativa para garantir a estabilidade e redundância de sistemas de geração de energia.

No Brasil, o modelo desponta como alternativa altamente eficaz e financeiramente acessível. Há um potencial enorme a ser explorado nos setores industrial e comercial, por exemplo. É possível suprir energia elétrica e térmica por meio de sistemas customizados, conhecidos por Centrais de Cogeração de Energia, que podem ter eficiência de até 90%. O mercado potencial para cogeração com gás natural, por exemplo, é de cerca de 3.500 MW somente no Sudeste e no Centro-Oeste, segundo informações da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia). O modelo de produção ainda pode ser utilizado de modo complementar aos sistemas de geração a partir da força dos ventos. A energia eólica tem um perfil de produção variável ao longo das horas do dia e dos dias do ano, requerendo, portanto, uma regulação ou complemento de outra fonte para garantir-lhe o status de energia firme. As tecnologias empregadas em sistemas de geração distribuída são um excelente coadjuvante a esses sistemas, garantindo maior qualidade da energia entregue e previsibilidade e segurança operacional ao sistema.

De forma análoga, o modelo de geração descentralizado pode representar um importante alívio em sistemas de distribuição densamente congestionados, como é o caso de grandes metrópoles. Pequenas centrais de geração de energia alocadas em pontos estratégicos permitem aliviar os sistemas de distribuição ao mesmo tempo em que promovem maior regulação e qualidade na energia fornecida. Esse conceito tem sido empregado com grande sucesso em metrópoles como Nova York e Cidade do México. No Brasil, a geração distribuída tem a seu favor a abundância de recursos renováveis que podem ser utilizados como combustível, como o lixo depositado em aterros sanitários e os resíduos orgânicos restantes cia produção de açúcar e etanol. Ou seja, ainda é preciso fazer a lição de casa e diversificar a matriz energética, fortalecendo o sistema como um todo. Priorizar a geração distribuída e promover mudanças que favoreçam o sistema pode ser um dos caminhos alternativos. Naturalmente, esse não é o único caminho, mas é uma das opções possíveis em um momento em que o sistema de geração energética do país encontra-se sobrecarregado e operando em seu limite. *Juan Galan - Líder da Divisão de Distributed Power da GE para o mercado brasileiro (Brasil Econômico)
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