terça-feira, 23 de setembro de 2014

“Empresas brasileiras precisam de gerentes de energia”

Para enfrentar de forma correta o alto custo da energia no Brasil, a indústria precisa dar mais importância ao tema. E preciso que as empresas incorporem a figura do gestor de energia, para evitar riscos que afetem a competitividade. O diagnóstico é de Piersandro Lombardi, diretor-geral da DufEnergy, grupo suíço que vive de comercializar energia na Europa. No Brasil para anunciar a parceria com a Matrix Trading Energy, comercializadora local, Lombardi falou à DINHEIRO sobre o tema.


Os negócios do grupo estão hoje concentrados na Europa. Por que decidiram ingressar no Brasil?
É um país que tem um grande potencial de crescimento. Nosso sentimento é de que o mercado brasileiro de energia vai se desenvolver como na maior parte dos países desenvolvidos.

As empresas do País jã se acostumaram a gerenciar a energia?
Não. Os contratos de energia no Brasil são gerenciados pela área de suprimentos, que não está acostumada a uma volatilidade de 500%. O mesmo profissional que compra parafuso é o que compra energia. 55 que parafuso não é commodity. Energia, sim, e extremamente volátil e estratégica para os custos. Enquanto a energia não for gerida pela área financeira, haverá problemas. Muitos consumidores ficam expostos dessa forma.

Como isso é feito no mundo? Há algum modelo a ser seguido?
Na Europa, há uma figura específica: a do gerente de energia, uma pessoa destinada exclusivamente para administrar os contratos de energia.

Como convencer as companhias brasileiras a dar mais atenção ao tema?
Posso dizer o que aconteceu na Europa. O desenvolvimento do mercado livre foi marcado por grande volatilidade de preços, e as empresas começaram a se perguntar como poderiam melhorar o custo da energia. Então, mais e mais grupos entraram no mercado. É o que achamos que deve acontecer no Brasil.

A alta volatilidade nos preços afasta os clientes do mercado livre?
A volatilidade pode gerar oportunidades para os comercializadores, mas não para a indústria. Esperamos que as empresas brasileiras usem cada vez mais os contratos de energia para se proteger, porque não podem arcar com essa volatilidade. Em países como a Alemanha, os industriais já estão se protegendo com contratos para 2017,2018…

Como podemos evitar a repetição dos problemas de energia atuais?
Para resolver a difícil situação de equilíbrio entre oferta e demanda de energia, que cria volatilidade, é preciso apoiar o desenvolvimento da rede elétrica, porque quanto melhor estiver, melhor pode ser o transporte de uma região que tem muito para outra que tem pouco. Isso tende a estabilizar o preço. Assim como os métodos para compensar essa volatilidade, como as plantas de gás ou soluções inovadoras, como as baterias e meios para armazenar energia. São formas de compensar a imprevisibilidade. A pré-condição para que isso aconteça é que o mercado seja bastante aberto. Por exemplo: na Alemanha e no Reino Unido, um mesmo consumidor recebe oferta de 40 empresas para fornecer energia.

Como as empresas podem ajudar nesse processo?
Precisam olhar para a relação lucro/perda. Acho que as companhias industriais vão se forçar a cortar custos de energia. Senão, vão perder fatia de mercado.

A abundância de recursos naturais não é um diferencial para o Brasil?
Há situações diferentes no mundo hoje em dia. Nos EUA, o gás de xisto está revolucionando o mercado. Está mais difícil dizer como cada recurso vai ter impacto nos mercados.

Na Europa, houve uma mudança para tornar o mercado de energia mais livre. Qual foi o impacto nos preços?
É difícil dizer. Porque o preço não é só influenciado pelo nível de competição, mas também pelas condições macro. Os preços caíram nos últimos anos, mas foi resultado do macro ou da competição?

Qual foi o ganho para os consumidores?
O preço na Europa é muito transparente. Todo gerente de energia tem plena consciência sobre os preços. Os profissionais têm profundo conhecimento. (Isto É Dinheiro)
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