segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Triplica ganho da cemig, cesp E copel com venda de energia

As geradoras de energia Cesp, de São Paulo, Cemig, de Minas Gerais, e Copel, do Paraná, registraram juntas ganho de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre deste ano com a venda de energia no mercado livre, cujos preços estão em patamares elevados devido à falta de chuvas. O número é quase 200% maior em relação ao mesmo período de 2013, quando as receitas somaram R$ 548 milhões. Porém, os ganhos não devem se repetir nos últimos trimestres deste ano, dizem especialistas, que projetam piora nos balanços das companhias. Para eles, a redução dos ganhos vai ocorrer com a queda na geração hidrelétrica provocada pelo menor volume de água armazenada nos reservatórios das usinas, uma vez que o período seco vai até novembro.

Essas três empresas, que ficam em estados governados por partido de oposição ao governo federal, conseguiram ganhos com a venda de energia no mercado livre, no qual o preço é ditado pela oferta e demanda, por não terem aderido à antecipação da renovação dos contratos de concessão com base na MP 579, de 2012, que provocou uma redução média de 20% nas contas de luz no ano passado.

Analistas preveem piora nos resultados
Com isso, ficaram com parte de sua energia disponível para negociar livremente no mercado. Do lado oposto, companhias como Light, distribuidora do Rio, Tractebel, uma das maiores geradoras de energia privada do país, e o grupo Eletrobras registram perdas no segundo trimestre deste ano, justamente por terem sido obrigadas a comprar energia no mercado livre para cumprir seus contratos.

- Os resultados das empresas vão piorar nos próximos trimestres, pois não haverá chuvas. Cesp, Copel e Cemig alocaram energia no início deste ano e, como estratégia, venderam no segundo trimestre para aproveitar o início do período seco, quando os preços sobem. Mas agora não vão ter mais tanta energia para vender. Vamos ver resultados ruins - disse Lucas Marins, analista da corretora Ativa.

O economista Marcel Caparoz, da RC Consultores, afirmou que os balanços vão piorar, apesar de o resultado operacional continuar bom, já que os preços da energia vão se manter altos no mercado à vista:

- Por questões sazonais, vai diminuir a geração de energia, e o lucro será menor.

Segundo a Cemig, a receita com a venda de energia no mercado à vista somou R$ 940,3 milhões no segundo trimestre, uma alta de 259% em relação ao mesmo período do ano passado. A companhia informou que o preço da energia subiu de R$ 250,58 por megawatt/hora (MWh) para R$ 682,20/WWh desde o ano passado. Assim, o lucro foi 20% maior: R$ 740,8 milhões.

Caso semelhante ocorreu com a Cesp, cujas receitas com a energia no mercado livre subiram 77,5%, para R$ 317,6 milhões, na mesma base de comparação. Com lucro 85,2% maior entre abril e junho, a empresa paulista viu a importância do segmento "curto prazo" em sua receita subir de 17% para 34,3%. Na Copel, a alta com a receita da venda de energia foi de 256%, para R$ 382 milhões. Só não aumentou o lucro líquido, segundo Marins, pela Copel ter sido obrigada a segurar parte da alta das tarifas para o consumidor.

- Mas a perspectiva agora é de perdas, já que a hidrologia vai piorar - afirmou Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ.

Para Caparoz, da RC, o nível dos reservatórios deve continuar em queda (atualmente está em 32,8% no Sudeste/Centro-oeste e em 29,9% no Nordeste) e o consumo tende a se manter. Ele afirma que a demanda terá que ser atendida fortemente pela geração térmica, mantendo elevados os preços da energia no mercado livre.

Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc Energia, lembrou que essas empresas terão ainda que comprar no mercado à vista parte da energia não gerada pelas suas hidrelétricas.

- Certamente quem não aderiu à renovação dos contratos de geração, independentemente de ganhar menos, está numa situação bem melhor de quem aderiu. (O Globo - 16/08)
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