quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ONS admite que 'politização' atrapalha solução com Cesp

O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, admitiu ontem que o teor político da campanha eleitoral dificulta a solução para o problema da redução da vazão da hidrelétrica de Jaguari, feita pela estatal paulista Cesp. A medida pode afetar o abastecimento de água para regiões do rio Paraíba do Sul, em São Paulo e Rio.

"[A questão política] já está atrapalhando. Acredito que haja bom senso para chegar a um denominador comum. Se a ANA não conseguir, o nível de decisão tem que ser elevado ao nível máximo", disse Chipp, no Rio. Questionado sobre o que seria o "nível máximo", Chipp explicou que são os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, a Presidência da República e os governos dos Estados.

Em documento enviado ao ONS, a Cesp alegou que reduziu a vazão da usina de Jaguari acatando determinação do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE). Ontem, o Ministério Público Federal no Rio pediu informações ao ONS sobre as recomendações feitas à Cesp para elevar a vazão da represa do Jaguari. O órgão tem 48 horas para responder.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, defendeu que o assunto seja tratado tecnicamente, sem viés político, mas disse que o governo acompanha "atentamente" o caso. "Confiamos que o ONS e a ANA encontrem uma solução, sempre de acordo com a lei e preservando os interesses da sociedade. Temos que confiar na capacidade dos órgãos ", disse o ministro.

Lobão descartou ainda a hipótese de intervenção federal na estatal paulista por causa do episódio. "Juridicamente pode [existir essa possibilidade de intervenção], mas não chegaremos a isso", disse.

Chipp descartou a possibilidade de faltar energia devido à decisão da Cesp, mas ressaltou o risco de faltar água para outros usos. "Jaguari é uma usina de duas máquinas de 13,8 MW, não significa praticamente nada em termos de abastecimento de energia. A operação do Paraíba do Sul é para usos múltiplos, não é para abastecimento energético", disse.

"São Paulo tomou uma decisão unilateral", afirmou Chipp. "Essa administração tem que ser em conjunto, coordenada pela Agência Nacional de Águas [ANA]. Acredito que vai se chegar a um comum acordo, porque todos precisam. Se continuar como está, vai faltar [água] para todos."

Chipp admitiu que a decisão da Cesp de descumprir uma ordem do ONS abriu um precedente no setor elétrico. "A Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] vai olhar de forma adequada", disse. (Valor Econômico)
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