sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Mesmo com BNDES, novo socorro ao setor elétrico sai mais caro

Além de contar com um aporte de R$ 3 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à operação, o segundo empréstimo orquestrado pelo governo às distribuidoras de energia, no valor total de R$ 6,6 bilhões, sairá mais caro do que o primeiro, de R$ 11,2 bilhões. As empresas terão de pagar agora uma taxa de 2,35% ao ano além da variação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), enquanto no empréstimo liberado em abril, o prêmio pago às instituições financeiras foi de 1,9% ao ano mais o CDI. Especialistas afirmam que o aumento reflete um menor apetite dos bancos comerciais para destinar recursos ao setor elétrico e alertam que o custo recairá sobre as tarifas cobradas do consumidora partir de 2015. "A estratégia do governo de tomar dinheiro emprestado para não subir as tarifas agora tem um efeito nocivo.

Os bancos não trabalham somente com o setor elétrico e a análise de crédito está associada ao tamanho da exposição deles ao setor. O custo do acesso ao crédito aumentou, o que demonstra que as instituições financeiras estão reticentes a expandirem sua exposição ao setor elétrico", analisou o professor do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ Edmar de Almeida.O sócio da área regulatória do Siqueira Castro Advogados Fernando Villela concorda. "Como todo financiamento, foi analisado não apenas o risco inerente ao setor elétrico como os recursos disponíveis nas instituições. Quando o banco decide destinar um montante como esse ao setor elétrico, ele está avaliando a oportunidade de retorno. Mas essa política do governo, de represar um aumento tarifário, irá parar na conta do consumidor em 2015", disse.

Contudo, na avaliação do economista da Gradual Investimentos André Perfeito, a estratégia do governo está correta. "O governo fez a opção de, em vez de repassar o custo da seca aos consumidores de uma só vez, amortecer esse custo. Vejo essa operação como um financiamento de longo prazo para amenizar o efeito no bolso do consumidor do repasse, que se fosse feito agora, geraria um impacto a mais num ano em que já estamos sofrendo coma pressão dos alimentos sobre a inflação", afirmou. Segundo Perfeito, o aumento do custo do empréstimo às distribuidoras reflete não apenas a questão do risco, mas a própria política monetária. "A taxa básica de juros subiu desde que foi realizado o primeiro empréstimo", lembrou. Na opinião dele, se o BNDES não tivesse entrado na operação, o custo seria ainda mais alto. "A entrada no BNDES ajudou a diluir o risco para os bancos comerciais e, portanto, o retorno cobrado por eles", considerou.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, disse que a opção de entrar no novo empréstimo foi do próprio BNDES e que "toda operação de mercado que se submete a uma operação anterior tende a ser subordinada àquela outra", justificando o fato de a taxa cobrada pelos bancos ser mais alta. "Quem correu o primeiro risco foram os primeiros bancos. O risco da subordinada em relação à principal é mais caro", avaliou. Segundo ele, os R$ 3,6 bilhões do segundo empréstimo que caberão às instituições comerciais serão repartidos "proporcionalmente" à fatia delas no empréstimo anterior, do qual participaram 10 bancos. Até ontem, estava confirmada a participação de sete deles — Banco do Brasil, Caixa Econômica,Bradesco, Itaú, Santander, BTGPactual e Citibank. Mas, de acordo com o secretário, outros seis ainda estudam a operação. Elas têm até o dia 15, data em que será liberada a primeira parcela, para aderir (Brasil Econômico)
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