quinta-feira, 10 de julho de 2014

Serviços de energia melhoram, aponta estudo

Apesar da percepção predominantemente negativa dos consumidores, os indicadores de qualidade na prestação de serviços de energia elétrica apresentam "expressivas melhorias" na última década e meia. Ainda há espaço, no entanto, para avançar na "dosimetria" das punições e incentivos às empresas concessionárias.

Essa é uma das conclusões do Instituto Acende Brasil, observatório do setor elétrico, em estudo que será divulgado nos próximos dias. Entre os indicadores analisados, o instituto demonstra que a frequência das interrupções no fornecimento de energia diminuiu 52% entre 1996 e 2013. No mesmo período, a duração dos cortes de luz foi reduzida em 30%.

O estudo "Qualidade do Fornecimento de Energia Elétrica: Confiabilidade, Conformidade e Presteza" avaliou informações nos três segmentos da cadeia - geração, transmissão e distribuição. Em síntese, reconhece-se a "suscetibilidade conjuntural" do sistema, ilustrada pelo fato de que o Brasil figura duas vezes - em março de 1999 e em novembro de 2009 - entre os cinco maiores blecautes já registrados no mundo. Em termos de população afetada, esses dois episódios só foram superados por outros dois apagões na Índia e um na Indonésia. No caso brasileiro, esses eventos deixaram no escuro 95 milhões e 65 milhões de consumidores, respectivamente.

"O sistema elétrico brasileiro é mais suscetível a blecautes de larga escala devido ao fato de o suprimento depender de energia proveniente de grandes hidrelétricas muito distantes dos centros de carga", afirma o estudo. "Essa configuração exige que grandes quantias de energiasejam deslocadas por longos trechos de transmissão."

Para defender a qualidade da rede básica de forma "sistêmica", o relatório demonstra a evolução no indicador de robustez. Esse dado reflete a relação percentual entre o número de perturbações (ocorrência no sistema interligado nacional) sem cortes de carga e o número total de perturbações. Quando o indicador está alto, mostra que a rede aguenta o desligamento de um ou mais componentes sem gerar apagões de média ou grande proporção. Entre 2005 e 2013, segundo números compilados pelo instituto, o índice de robustez evoluiu de 84,1% para 88,2%. Ou seja, em 88,2% das ocorrências, não houve cortes no sistema interligado.

Em relação à quantidade de reclamações aos órgãos de defesa do consumidor, há uma queda desde 2010. "A revisão dos diversos indicadores de qualidade ao longo das três dimensões (confiabilidade, conformidade e atendimento comercial) indica que houve melhorias substanciais na qualidade do fornecimento de energia elétrica nas últimas décadas."

O estudo chega às vésperas de uma definição, pelo governo, de como vão ficar as concessões das distribuidoras prestes a expirar: mais de 40 empresas têm contratos vencendo até 2015 e o governo ainda não definiu os critérios de renovação. Até agora, só houve indicações de que os indicadores de qualidade serão determinantes. E parte das distribuidoras, como as controladas pela Eletrobras, supera as metas de duração e frequência dos apagões fixadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Para o Acende Brasil, a Aneel já dispõe de mecanismos "em operação" ou "em processo de implementação" para estimular a melhoria dos indicadores. Uma das sugestões do instituto, entretanto, é abrir discussões com conselhos de consumidores. "Os resultados indicam que há relação positiva entre os investimentos e o nível de qualidade, mas que os retornos dos investimentos em qualidade são decrescentes: cada real adicional investido no aprimoramento da qualidade obtém um incremento cada vez menor." (Valor Econômico)
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