quarta-feira, 16 de julho de 2014

Geradoras ficam expostas em R$ 1,4 bi no mercado spot

O déficit na geração das hidrelétricas, conhecido pela sigla em inglês GSF (Generation Scaling Factor), aumentou novamente em maio para 5%, após ter caído para apenas 1% em abril, de acordo com o balanço publicado pela Câmera de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Segundo o consultor João Carlos de Oliveira Mello, da Thymos, já há indícios de que o déficit tenha crescido ainda mais em junho, para 9%.

Neste ano, as hidrelétricas não estão gerando 100% do volume previsto nos contratos (garantia física) devido à forte seca que atinge a região Sudeste, que concentra grande parte das usinas. Todos os meses, o Operador Nacional do sistema (ONS) é obrigado a ligar usinas térmicas para atender uma parte da demanda nacional, economizando, assim, água nos reservatórios das hidrelétricas.

As entidades que representam as empresas de geração estão preparando um estudo sobre o GSF para entregá-lo ao governo.

As hidrelétricas geraram 41,609 mil MW médios em maio, menos do que os 44,451 mil MW médios que teriam de entregar para o sistema. A diferença entre o total gerado e a garantia física precisa ser comprada pelas controladoras das hidrelétricas no mercado de curto prazo todos os meses na CCEE.

Segundo Mello, a conta saiu cara para as geradores. O custo total seria de R$ 1,4 bilhão em maio, considerando um preço médio de R$ 806 por megawatt-hora no mercado spot - o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). De acordo com a Thymos, as geradoras ficaram expostas em 1,73 milhão de MWh em maio. Em junho, apesar do GSF ter aumentado de 5% para 9%, o valor médio PLD caiu pela metade, para R$ 412 por MWh. No fim, o custo com a exposição ao mercado de spot deve ser o mesmo.

No entanto, afirma Mello, não é possível saber quanto cada geradora terá de pagar. Isso vai depender da gestão de risco e da estratégia de comercialização adotada por cada uma. As geradoras podem optar por não comercializar uma parte da energia para se prevenir de eventuais flutuações no GSF - volume que pode variar entre 3% e 5%. Se a empresa, por exemplo, tiver reservado 5% de sua garantia física, ela não precisará comprar energia no spot para cobrir suas posições em maio.

Em todo o ano de 2014, o déficit hídrico poderá custar R$ 20 bilhões para as geradoras, estima Mello. Segundo antecipou em maio o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, um alto executivo de uma grande empresa do setor já calculava que a conta para as empresas de geração chegaria à casa de R$ 20 bilhões devido à severa seca que atinge a região Sudeste do país.

Segundo fontes do setor, há estimativas no mercado de que o déficit na geração hídrica aumentará para 10% em julho, 11% em agosto e setembro e 10% em outubro. Entre julho e outubro, as geradoras deverão ficar expostas em mais de 3,5 milhões MWh por mês. Agosto deve ser o mês mais crítico, quando se espera que as geradoras fiquem expostas em 3,9 milhões de MWh no mercado spot.

"Esses são patamares muito altos, nunca vistos", afirma Mello. "Trata-se de uma situação anômala, que não faz parte do risco esperado para o negócio de geração", diz o consultor, para quem o governo federal deveria, de alguma forma, auxiliar as empresas a passarem por esse período mais agudo. Como o GSF é algo conhecido e faz parte do risco, fontes do setor argumentam que as geradoras não precisariam ser socorridas, ao contrário das distribuidoras de energia. Mas, na avaliação de Mello, as geradoras não são culpadas por um despacho tão alto de térmicas, por exemplo. Segundo ele, despesas de R$ 20 bilhões com a exposição ao mercado spot podem comprometer o setor. (egundo fontes, uma das alternativas seria a abertura de uma linha de crédito especial no BNDES para as geradoras. (Valor Econômico)