quarta-feira, 21 de maio de 2014

Mercado livre prepara proposta de financiamento para expandir oferta de energia

A falta de liquidez no mercado livre preocupa agentes do setor elétrico e a consultoria especializada PSR, alertou nesta terça-feira que esse ambiente de comercialização de energia poderá ter insuficiência de oferta em 2016.

O problema de liquidez já ocorre, segundo agentes que trabalham com o mercado livre, e a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel) está preparando uma proposta de financiamento de projetos de geração voltado para a expansão da oferta ao mercado livre.

A proposta deverá ser apresentada ao BNDES em junho, informou o presidente da Abraceel, Reginaldo Medeiros, nesta terça-feira, durante evento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Atualmente, o mercado livre representa cerca de 27 por cento do consumo de energia do país e nesse ambiente de contratação está a maior parte da grande indústria brasileira.

A falta de liquidez no mercado livre ocorre por diversos fatores, incluindo o fato da renovação antecipada das concessões de geração em 2012 ter direcionado energia mais barata das usinas apenas para o mercado regulado, aquele atendido pelas distribuidoras de energia.

Agregado a isso, o forte preço de energia de curto prazo atualmente faz com que geradoras com energia disponível para venda prefiram liquidar essa energia no curtíssimo prazo, com base no Preço de Liquidação e Diferenças (PLD), que está no topo de 822,83 reais por megawatt-hora, na maior parte das regiões.

O diretor da consultoria especializada no setor elétrico PSR, Marco Antônio Oliveira, disse que o problema de liquidez no mercado livre pode ocorrer mais fortemente a partir de 2015 diante do atraso da oferta de energia e também pela distribuição de eletricidade das concessões renovadas no regime de cotas para o mercado regulado.

Ele acrescentou que o mercado livre poderia até ficar sem oferta suficiente em 2016, segundo cenários apresentados, que consideram também que a energia de hidrelétricas da Cemig incluídas nas regras de renovação das concessões do governo federal em 2012 siga para o mercado regulado.

A Cemig ainda briga para poder renovar a concessão dessas usinas por mais 20 anos, defendendo que a renovação está prevista nos contratos atuais e contra regras estabelecidas pelo governo federal.

"Precisamos criar mecanismo para viabilizar essa expansão (da oferta de energia)", disse Oliveira, da PSR, sobre o mercado livre.

O presidente da plataforma de negociação de eletricidade Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), Victor Kodja, acredita que o problema pode se estender até 2016. "Existe empresa descontratada já enfrentando essa dificuldade", disse. Ele acrescentou que embora existam possíveis soluções para melhorar a liquidez, há pouco incentivo do lado da produção de energia para aumentar essa oferta no curto prazo.

Já o presidente da plataforma de energia Brix, Levindo Santos, afirmou que a queda de liquidez observada mais fortemente nos últimos 45 dias, pode ser temporária.

"Dada a incerteza sobre a qualidade de crédito de contra-partes, os agentes preferem, neste momento, diminuir o volume de negociações", disse Santos a jornalistas, acrescentando que a forte elevação no preço de energia contribui para esse cenário.

Solução para expansão - Segundo Medeiros, da Abraceel, a apresentação de proposta de financiamento ao BNDES visa possibilitar que cerca de 4 mil megawatts (MW) em projetos de geração de energia, que estão prontos para serem viabilizados, saiam do papel, aumentando a oferta para o mercado livre.

"São projetos que podem entrar em operação rapidamente, em dois ou três anos", disse ele.

Os projetos de geração de energia voltados para o mercado livre têm dificuldade de obter financiamentos de longo prazo já que não conseguem dar como garantia recebíveis dos contratos de venda da energia por 30 anos, conforme acontece no mercado regulado. No mercado livre, os contratos de energia dificilmente são fechados por prazos superiores a cinco anos.
"Não é porque eu não tenho contrato de energia a partir do sexto ano que eu não possa tê-lo. Eu tenho interesse de tê-lo e se eu não tiver, eventualmente pode se dar algum tipo de garantia corporativa... Isso dá alguma segurança aos bancos", disse.

Medeiros acrescentou que os cerca de 4 mil MW em projetos que poderiam ser desenvolvidos para o mercado livre somam cerca de 15 bilhões de reais em investimentos. Segundo ele, consumidores que respondem por cerca de 12 por cento do consumo de energia do Brasil poderiam, potencialmente, migrar para o mercado livre. (Reuters)
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