domingo, 18 de maio de 2014

Geradora lucra com preço alto

As maiores geradoras de energia do país registraram lucros robustos no primeiro trimestre por conta do elevado preço da eletricidade vendida no mercado de curto prazo, que se manteve no teto de R$ 822,83 por megawatt hora (MWh) durante quase todo o período. A Eletrobras reverteu prejuízo de R$ 36 milhões nos primeiros três meses do ano passado em lucro líquido de R$ 986 milhões neste ano. A Cemig teve resultado positivo de R$ 1,25 bilhão, quase 45% maior do que no início de 2013. O resultado da Light (RJ) foi 129,5% maior. E a Cesp aumentou seus ganhos duas vezes e meia no período.

Já as distribuidoras, que na maioria das vezes fazem parte do mesmo conglomerado da empresa de geração, tiveram que pedir socorro ao governo e se valer de um empréstimo bancário de R$ 11,2 bilhões para cobrir o rombo aberto por pagarem caro pelo MWh. Mesmo com os lucros das geradoras associadas, os consumidores é que irão arcar com o resgate, já que as garantias do financiamento são o aumento futuro das tarifas e a criação de mais um encargo na conta de luz do brasileiros.

A distorção, segundo especialistas, ocorre por causa da desverticalização do setor elétrico, que obrigou empresas a se desmembrarem em unidades de geração e distribuição, mesmo que a controladora seja a mesma. "O governo acabou com a integração do setor. Hoje, a distribuidora de um grupo não pode comprar da sua própria geradora. É obrigada a participar de leilão e contratar a energia de um pool de geração", explica Walter Fróes, da CMU Comercializadora.

Na avaliação de João Carlos Mello, da Thymos Energia, o caminho das geradoras deve ser mais espinhoso no decorrer do ano. Com a falta de chuvas e os reservatórios em baixa, elas não terão energia suficiente para honrar os contratos assumidos. "Sem lastro, as empresas também terão que comprar eletricidade no mercado de curto prazo, pagando pelo teto de R$ 822,83 por MWh. Portanto, o segundo trimestre não vai ser de lucro. Eu calculo um rombo de até R$ 15 bilhões", alertou. Outros especialistas estimam que o valor pode passar de R$ 20 bilhões.

Consumo
A Eletrobras, que fechou 2013 com prejuízo anual de R$ 6,3 bilhões, informou que a maior responsável por colocar o balanço no azul, no primeiro trimestre de 2014, foi o resultado positivo de R$ 1,1 bilhão da subsidiária Eletronorte. A Cemig salientou que as vendas de janeiro a março foram 7,75% maiores do que no mesmo período no ano anterior. O crescimento do lucro foi puxado pelo aumento de 38,82% no resultado operacional e pelo aumento de 80,75% nas receitas financeiras.

Na divulgação do resultado, a Cemig considerou que a "a situação de abastecimento continua desafiadora". "Os registros de recordes sucessivos no consumo de energia no início deste ano, provocados pelo aumento das temperaturas, principalmente no Sul e no Sudeste, contribuem para o agravamento do quadro", informou a empresa.

A Light terminou o primeiro trimestre com ganho de R$ 181 milhões, registrando crescimento de 20,1% na receita líquida consolidada. O consumo na área de concessão da empresa aumentou 7,8%. A Cesp teve lucro de R$ 844,8 milhões nos primeiros três meses de 2014, com alta de 43,2% na receita de venda de energia, que chegou a R$ 1,84 bilhão. Desse total, R$ 871,4 milhões foram operações no mercado de curto prazo e R$ 583,8 milhões vendas no mercado livre. Apenas R$ 382,5 milhões vieram de contratos com distribuidoras.

Produção maior - Apesar de a falta de chuvas ter reduzido a produção de eletricidade em São Paulo e na Região Sudeste, diante da necessidade de poupar os reservatórios das hidrelétricas, que caíram para níveis historicamente baixos, a Cesp registrou aumento de 4,6% na geração de energia no primeiro trimestre, ante os primeiros três meses de 2013. (Correio Braziliense 17/05)
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