sexta-feira, 2 de maio de 2014

Estatais e distribuidoras saem com caixa reforçado de leilão

O governo mirou nas empresas privadas e, de quebra, conseguiu reforçar o caixa das estatais do setor elétrico. O leilão de energia A-0, de empreendimentos existentes, realizado na última quarta-feira, teve as públicas Petrobras, Eletronorte e Furnas como protagonistas — responsáveis por 67% dos 2.046 megawatts médios comercializados. A avaliação de especialistas, contudo, é que não foi um jogo de carta marcada, em que as estatais são chamadas para socorrer o mercado, apesar da pouca atratividade do negócio.

Apenas Furnas, do sistema Eletrobras, conseguiu reforçar seu caixa em R$ 7,2 bilhões até 2019, como informou em nota oficial, após o leilão. "Essa energia ia ser vendida por um preço de mercado de longo prazo a R$ 120, R$ 130 por megawatt- hora (MWh).Técnica e economicamente (o leilão) foi muito bom para nós", disse o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, após Assembleia Geral da empresa.

Embora o preço médio de R$ 268,33 por MWh seja muito inferior aos R$ 822 por MWh do mercado de curto prazo (spot), superou os R$ 192 por MWh oferecidos no leilão A-1 do final de 2013, que, sem atrair o interesse de investidores, não conseguiu atender à demanda de 3.200MW médios prevista pelas distribuidoras para este ano. Com o resultado, a cobertura do déficit das distribuidoras de 2,4 mil MW médio chegou a 85%, segundo o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, tomando como base o déficit calculado pelas distribuidoras.

A estimativa inicial do governo era de um déficit de 3,3 mil MW médios, o que significaria uma cobertura com o leilão de 64%. "O que atraiu as empresas foi o horizonte de contrato de cinco anos e oito meses, maior do que ofertado em leilões passados, normalmente de dois anos, que garante um fluxo de caixa com um valor fixo por um prazo médio", disse Heloisa. Ela lembra que, no curto prazo, as empresas lucrariam mais se vendessem no spot. "Mas nada garante que esse preço se manteria.

Ao contrário, a tendência é que os preços reduzam e caiam bastante a partir do final de 2015. Por isso, preferiram garantir um fluxo de caixa", afirmou. Especialista em energia do L.O. Baptista-SVMFA, Guilherme Schmidt lembra que os grupos participantes possuem um volume de energia não contratada muito grande e, por isso, optaram em reservar uma parte para o mercado spot e outra para energia contratada. "É como em um investimento: ninguém deve alocar todos os recursos numa única cesta.

O mesmo vale na questão de energia. Apostar tudo no mercado spot poderia ser vantajoso no curto prazo, mas arriscado no médio e longo prazos", explicou o advogado. Opinião semelhante temo presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. "Participaram desse leilão apenas as empresas geradoras que tinham energia descontratada. E o prazo de contrato foi bastante atraente. Portanto, não se trata apenas de fazer caixa, mas uma forma de se livrar dessa energia existente, garantindo um bom retorno", avalia.

Para Sales, tanto as empresas estatais quanto as privadas que participaram do leilão encontraram na concorrência uma justificativa econômica. "As geradoras garantiram um bom retorno e a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) conseguiu reduzir a exposição involuntária das distribuidoras, que em última análise estavam justamente pressionando para cima os preços no curto prazo", afirmou.

Para o presidente da Trade Energy, comercializadora independente de energia, o fato de as estatais terem sido responsáveis pela maior parte da comercialização se deve ao fato de elas serem também as maiores geradoras de energia no país. "Não há nenhuma surpresa. como as estatais são as grandes geradoras, é natural que elas tenham ofertado a maior parte da energia disponível para o leilão", disse o executivo.

Para o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, o leilão garante para 2015 um reajuste da conta de luz menor. Já o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirmou que o maior beneficiado pelo resultado será o consumidor, por conta na redução do volume que as empresas terão de contratar no mercado livre. (Brasil Econômico)
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