terça-feira, 13 de maio de 2014

Energia escassa para 2015

Enquanto o mercado ainda especula de onde vai sair o dinheiro para cobrir o rombo das distribuidoras este ano, de R$ 7,9 bilhões, especialistas já estão preocupados com a falta de energia física para o ano que vem. Não há mais oferta no mercado livre para contratação a partir de janeiro de 2015. Mesmo nesse cenário, o governo segue com o discurso de que não há necessidade de um racionamento. "A situação do setor elétrico no Brasil não é crítica. Ninguém neste país até agora foi constrangido a desligar uma lâmpada sequer. E assim será", afirmou ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) retificou o valor a ser repassado às distribuidoras. Inicialmente, seriam R$ 3,2 bilhões, mas a segunda parcela foi reajustada para mais de R$ 4 bilhões. A Light (RJ) receberá o maior aporte, de R$ 423 milhões, seguida da Cemig (MG), com R$ 410,3 milhões, Copel (PR), R$ 321,9 milhões e AES Eletropaulo (SP), R$ 321 milhões. Como a primeira parcela foi de R$ 4,7 bilhões, restam apenas R$ 2,5 bilhões para a liquidação de abril, a ser realizada em junho.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, garantiu que vai faltar dinheiro. A estimativa da entidade é de que mais R$ 7,9 bilhões sejam necessários até o fim do ano para cobrir o rombo do setor. "É líquido e certo que vai ter uma solução adicional", disse.

O governo insiste que o Tesouro Nacional não fará novos aportes. "Tudo leva a crer que os recursos serão insuficientes, mas de onde vai sair o dinheiro é uma incógnita. Provavelmente, o governo vai tirar alguma coisa da cartola", estimou Adilson Oliveira, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), especialista no setor elétrico.

Novo empréstimo - Representantes do governo e o presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Luiz Eduardo Barata, admitem que a solução pode passar por um novo empréstimo com instituições financeiras públicas e privadas. Isso evitaria o comprometimento maior do desempenho das contas públicas e jogaria um pouco mais para a frente o impacto para o consumidor. Contudo, o primeiro empréstimo tomado pela CCEE já foi polêmico o suficiente para fazer três conselheiros da entidade renunciarem antes da assinatura do contrato. Em Assembleia, hoje, a entidade deve eleger novos representantes.

Para o professor Oliveira, ainda restam três mil MW em térmicas para serem injetados no sistema em 2014, uma vez que os reservatórios estão baixos. "Isso dá um fôlego para este ano, mas o custo vai ficar cada vez mais elevado. A situação ficará insustentável no ano que vem. A solução mais sensata seria um programa de redução no consumo, apesar de todo o custo político que isso tem", ponderou.

Para o sócio da Interact Consultoria em Energia, Rafael Herzberg, o problema é ainda pior. "Nós temos duas crises no setor. A crise do preço e a da oferta física. Por enquanto, fala-se mais em valores, mas a falta de disponibilidade é mais grave. Não há oferta de energia para quem quer contratar a partir de janeiro de 2015", alertou.

Flexibilidade - Durante encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, destacou que o sistema elétrico brasileiro possui mais segurança e flexibilidade hoje do que possuía em 2001, quando o país passou por um racionamento de energia. Segundo Lobão, se chegar a "situação de faltar água no Sudeste, temos condições de trazer (energia) de outras regiões". (Correio Braziliense)
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