quarta-feira, 30 de abril de 2014

Preço de MWh é desafio em leilão

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, aposta na intenção das empresas geradoras em ganhar com o preço da energia no longo prazo como incentivo à participação no leilão A-0, de compra de empreendimentos já existentes, que acontece hoje, a partir das 10h. Sobre a concorrência pesa a responsabilidade de contribuir para reduzir o rombo nas contas do setor. Os preços do leilão são de R$ 271/ megawatt-hora (MWh) para a compra de energia no contrato por quantidade e de R$262/MWh no de disponibilidade, de geração em casos emergenciais.

"O valor no leilão é alto e tem como foco atrair esses geradores para um contrato de cinco anos. A tendência do preço spo t (curto prazo) é com o tempo cair. Quem fizer o contrato vai ganhar bem, a longo prazo", completa Tolmasquim. Por meio dos novos contratos de venda de energia o governo deve reduzir à metade o problema de financiamento do setor, mas não solucioná-lo, segundo especialistas. Diretor executivo da consultoria Safira Energia, Mikio Kawai Júnior, calcula que o rombo atual do setor elétrico chegue a R$ 26,4 bilhões, considerando o déficit de 2013 e mais o dos primeiros quatro meses de 2014.

"Um estudo nosso mostra que, por conta do despacho térmico de 2013, o montante total gasto foi de R$ 9,6 bilhões, que serão repassados às tarifas, ao consumidor, a partir de 2015. Agora em 2014 já estamos com mais R$ 16,8 bilhões", afirma Kawai Júnior, destacando que a elevação no déficit é consequência direta da supervalorização dos preços da energia no mercado de curto prazo. O PLD no Sudeste/ Centro-Oeste foi de R$ 378,22 MWh em janeiro de 2014 para R$ 822,83 MWh agora em abril.

A expectativa do mercado é que até 50% da "exposição involuntária" das distribuidoras, decorrente da contratação insuficiente nos leilões de energia existente e alto custo da energia térmica nos últimos dois anos, sejam cobertos— o que em números significa a necessidade contração de 1,75 mil MW médios. A percepção de analistas, contudo, é que a medida emergencial, no entanto, não deve conseguir reverter as perspectivas para o setor neste ano, quando o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) no mercado de curto prazo atingiu patamar recorde — com projeção de se manter em R$ 822/MWh até novembro—e deve continuar com necessidade de financiamento.

"Se conseguirmos atingir de 40% a 50% de cobertura, será um bom negócio. Significa que reduzimos a 50% a exposição das distribuidoras na compra de energia num mercado de curto prazo", avalia o presidente da EPE. "Por meio do leilão, o preço contratado de energia será um terço do praticado hoje no mercado de curto prazo. Logo, os débitos pela frente serão reduzidos em dois terços. Ainda assim, a gente só cortaria a possibilidade de novos financiamentos do setor elétrico se tivéssemos um suprimento de cem por cento (da exposição involuntária), o que deve ser improvável", salienta o diretor executivo da Safira Energia.

Para o presidente da comercializadora Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, ainda é cedo para dizer quanto o leilão de hoje deve aliviar as contas do setor. "Ainda há muitas incertezas neste ano. Tudo vai depender do volume contratado neste leilão e o preço do PLD nos próximos meses. Pode ser que o volume financiado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) (de R$ 11,2 bilhões) não seja suficiente", analisa.

Ontem, o Sistema Cantareira, principal reservatório de abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo, atingiu mais um recorde de baixo nível de capacidade, de 10,9%, segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), "caso ocorra um agravamento das condições hidrológicas no período de maio a novembro, diferentemente do que é atualmente esperado, o ONS poderá propor medidas adicionais às autoridades setoriais." (Brasil Econômico)
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