sexta-feira, 11 de abril de 2014

Furnas pressiona saída de sócio privado na usina Três Irmãos

O Tribunal de Contas da União (TCU) poderá investigar o sócio privado de Furnas na Hidrelétrica de Três Irmãos, disse ao Estado o ministro José Jorge. Embora no momento o TCU esteja examinando outra questão complicada da concessão - o que fazer com as eclusas e o canal da usina -, existem dúvidas sobre o processo porque uma das empresas do consórcio aparece nos documentos apreendidos pela operação Lava Jato da Polícia Federal. Isso poderá ser analisado numa próxima etapa.

Conforme informou o Estado na terça-feira, a GPI Investimentos e Participações figura numa promessa de compra e venda do laboratório Labogen, em associação com uma suposta empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, a Quality. Ela também é mencionada em e-mails interceptados na operação. A empresa confirma a existência do documento de venda e informa que construiu a estrutura física da Labogen. Porém, nega ser sócia do laboratório.

A GPI é a principal cotista do Fundo Constantinopla que, por sua vez, é o sócio de Furnas no consórcio que levou a usina de Três Irmãos. É presidida por Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi secretário de Assuntos Estratégicos no governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Outros três cotistas do Constantinopla também pertencem ao grupo de Leoni Ramos: Goldenbank, Darjan e Cialo. O outro integrante é a gestora de recursos Cypress.

Pressão. A repercussão negativa da sociedade com esse grupo estaria levando Furnas a pressioná-los a deixar o negócio de Três Irmãos, segundo fontes de mercado. "Eles (Furnas) querem limpar a área, não tenha dúvidas", disse um especialista.

Circulava ontem no mercado e no governo a informação de que a estatal já estaria à procura de um novo sócio. É um dado que coincide com a informação dada pela própria estatal ao Estado, anteontem, pela qual cotistas estariam deixando o Constantinopla. Eles negam.

A Cypress disse que não está deixando a sociedade. A GPI informou que aguarda o posicionamento do TCU quanto às eclusas e o canal para tomar uma decisão.

A possibilidade de a concessão abranger essas estruturas de navegação, como parece ser a tendência da corte de contas, vai elevar os investimentos necessários e reduzir a rentabilidade. Por isso, os integrantes do consórcio acompanham o debate com preocupação.

Dúvida. O governo federal leiloou apenas a parte de geração, e ficou a dúvida sobre quem ficaria com as eclusas e o canal. A discussão não é simples e há dúvidas até sobre quem é o dono: o Estado de São Paulo ou a União.

Na prática, porém, isso não traz prejuízos. "Do ponto de vista do sistema elétrico, essa discussão não afeta em nada", disse o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor Nivalde de Castro. Ele explicou que, caso o atraso seja muito grande, Furnas pode assumir a operação da usina, hoje sob responsabilidade das Centrais Elétricas d e São Paulo (Cesp).

Na sua avaliação, a polêmica sobre eclusas e canal é "irrelevante" do ponto de vista técnico. "O imbróglio é político e jurídico", disse. Ele entende que as estruturas pertencem ao governo federal. (O Estado de S.Paulo) 

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