sexta-feira, 11 de abril de 2014

Conta de luz ameaça a meta

Apesar de ter elevado a sua estimativa de alta no preço da eletricidade este ano, o Banco Central (BC) continua excessivamente otimista. A sua aposta de aumento anual de 7,5%, anunciada em fevereiro, subiu agora para 9,5%, conforme a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem, mas o percentual ainda parece distante da realidade do setor elétrico, sem considerar até mesmo recentes reajustes autorizados a distribuidoras, em torno de 15%.

Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que o impacto dos reajustes das contas de luz sobre a inflação reforçam significativamente a perspectiva de que o teto da meta do BC para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, de 6,5%, será rompido.

André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ), informa que, para cada 1% de aumento no preço da eletricidade, o IPCA sobe 0,03 ponto percentual. Dessa forma, um aumento de 10% na conta de luz este ano, por exemplo, acrescentará ao índice oficial de inflação 0,3 ponto percentual, o suficiente para se perder a meta.

Em razão das atuais circunstâncias críticas do setor elétrico, afetado pelo baixo nível dos reservatórios e pela geração termelétrica, mais cara, essa relação deve se manifestar mais intensamente, acrescenta ele. “O item energia elétrica tem peso de 2,5% do orçamento doméstico, e a única sorte do governo é que os reajustes das distribuidoras não são aplicados simultaneamente”, sublinhou. Para o público de terceira idade, a despesa é mais relevante, de 3% do total, por ele ficar mais tempo em casa.

Braz lembrou que o gasto com energia é uma variável importante no custo de vida, que já registrou, no começo do ano, cifras acima do esperado. “Sem poupança para amortizar tal avanço, restará ao governo repassar as altas de preços ao consumidor e por tempo indeterminado”, alertou. Para piorar, como a oscilação das tarifas tem margens estreitas, a tendência é de as altas não recuarem no futuro.

Defasagem - “As tarifas de 2014 estão defasadas em 25%, com reflexos para o bolso do consumidor sendo parcialmente contidos pelos aportes do Tesouro. Mas está cada vez mais insustentável prolongar esse represamento, em virtude das limitações fiscais e dos riscos à saúde financeira do setor”, observou o consultor João Carlos Mello, da Thymos Energia.

Ele acrescenta que o leilão emergencial de energia, marcado para o fim do mês e dedicado a reduzir a exposição das distribuidoras de eletricidade aos preços recordes do curto prazo, também não trará alívio pretendido pelo governo sobre as pressões por reajustes. Na sua avaliação, não restarão alternativas a não ser repassar os custos ao consumidor nos próximos anos, sob risco de haver uma quebra do setor “antes financeiramente independente e hoje cada vez mais dependente do socorro federal”. (Correio Braziliense)

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