terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Só chuva em dobro evita racionamento

As chuvas do final de semana não foram suficientes para conter a queda do nível das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, principal caixa d’água do setor elétrico brasileiro. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios das regiões fecharam o domingo com 35,54% de sua capacidade de armazenamento de água, uma queda de dois pontos percentuais com relação ao verificado uma semana antes. 

Para especialistas, o Brasil tem que torcer por um volume de chuvas quase duas vezes superior ao que caiu nas duas primeiras semanas de fevereiro para afastar de vez o risco de racionamento de energia. “Janeiro e fevereiro são meses cruciais para o setor elétrico brasileiro. São definitivos para traçar um quadro para o resto do ano”, afirma Mikio Kawai Jr, diretor da consultoria especializada Grupo Safira Energia. Este ano, a curva do nível dos reservatórios apresenta comportamento atípico por conta da estiagem prolongada — normalmente, registra alta entre dezembro e maio, quando termina o período chuvoso; agora, vem mostrando queda. 

O volume de chuvas em janeiro foi o terceiro pior em83 anos, diz Kawai. Em fevereiro, segundo dados do ONS, as chuvas das duas semanas equivalem a 33% da média histórica para o setor. Segundo as projeções da Safira, é preciso chover, até agosto, um volume equivalente a 65% da média histórica (ou quase duas vezes o registrado em fevereiro) para que eliminar de vez o risco de racionamento — praticamente todo o parque térmico brasileiro está hoje em operação, o que reduz a margem de manobra do ONS com medidas para poupar água nos reservatórios. 

“A chuva está muito aquém do histórico e a probabilidade é que permaneça assim”, comenta Kawai. O Relatório Executivo do Programa Mensal de Operação do ONS fala em 35% da média para esta semana. “A previsão indica chuva fraca na bacia do Rio Tietê e pancadas de chuva nas bacias dos rios Grande, Paraíba do Sul e Paranaíba. No fim da semana, pode ocorrer chuva fraca nas bacias dos rios Uruguai e Jacuí”, diz o documento. 

Diante da estiagem prolongada, as primeiras chuvas não terão grande impacto nos reservatórios, uma vez que a estiagem prolongada, aliada às altas temperaturas, deixou o solo seco. É preciso que o solo seja encharcado para que os mananciais voltem a abastecer os reservatórios das usinas com água. O movimento de queda no nível dos reservatórios também se repetiu na região sul — onde, apesar das chuvas, a quantidade de energia armazenada caiu de 48,7% para 43.05% em uma semana. 

No nordeste, o nível ficou estável na casa dos 42%. Já no norte, houve alta no período, de 69,3% para 73,6%, confirmando o histórico de elevação esta época do ano. As usinas do norte têm enviado mais de 4 mil megawatts médios para sudeste, centro-oeste, sul e nordeste. A capacidade de transferência de energia, porém, está próxima ao limite. Embora o governo tenha admitido um risco, ainda que “baixíssimo”, de déficit, o ONS diz que, por estarmos ainda no período de chuvas, ainda há “expectativa de reversão do atual cenário hidrológico”. 

A previsão do operador é que, mantido o atual cenário, os reservatórios do sudeste e centro-oeste fechem o mês de fevereiro com 34,2% de sua capacidade de armazenamento de energia. A falta de chuvas levou os preços do mercado de energia de curto prazo, o chamado Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), ao teto previsto de R$ 822 por megawatt- hora pela terceira semana seguida.  O custo marginal de operação, que define que tipo de usinas serão acionadas, está em R$ 1,7 mil nas regiões sudeste e centro-oeste, o que indica, na visão de Paulo Roberto D’Araújo, diretor do Instituto Ilumina, indica que seria mais econômico provocar um racionamento de 5% da carga de energia “do que deixar tudo como está”. 

Segundo ele, o alto preço do custo marginal comprova a necessidade de ampliar o parque gerador no país. “O governo não quer admitir, mas seja por falta de investimento, seja por mudança no critério da operação, seja por perda de eficiência das usinas, ou seja por desvio de água: faltam usinas”, afirma ele, em newsletter enviada ao mercado. 

As chuvas do final da semana também tiveram pouco efeito sobre os reservatórios de água da região metropolitana de São Paulo, que enfrenta risco de cortes no fornecimento. Segundo dados da Sabesp, o Sistema Cantareira, que abastece 9 milhões de pessoas no estado, fechou o domingo com 18,5% de sua capacidade de armazenamento, volume praticamente estável com relação aos 18,7% verificados na sexta-feira. No mês de fevereiro, caíram 47,7 milímetros de chuva sobre o sistema, o equivalente a 23,54% da média histórica. Segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a semana será de pancadas de chuvas nas regiões Sudeste e Centro Oeste. O importante, dizem especialistas é chover nas regiões onde há captação de água para armazenamento de energia, ou, principalmente, sobra as bacias hidrográficas do interior de Minas Gerais e de São Paulo. (Brasil Econômico)
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