segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Gestão de risco será desafio para as geradoras em 2014

A gestão do chamado "risco hidrológico" será, neste ano, uma tarefa árdua para os executivos das grandes geradoras de energia do país, diante das incertezas em relação ao clima. Com a falta de chuvas, é muito provável que as hidrelétricas não gerem 100% do volume previsto. Quando isso ocorre, as empresas de geração precisam comprar energia para zerar suas posições. Mas as empresas também podem administrar o risco e alocar, no sistema elétrico, um menor ou maior volume em cada mês do ano, elevando ou diminuindo sua exposição.

O analista do banco J. Safra, Sérgio Tamashiro, estima que o sistema hidrelétrico brasileiro pode ter produzido, em janeiro, 95% da energia total alocada pelas empresas, de 55.900 MW-médio. Isso quer dizer que haveria um déficit de 5% na geração das hidrelétricas em relação ao volume garantido.

Na sexta-feira, o presidente da Tractebel, Manoel Zaroni, a maior empresa privada de geração de energia do país, afirmou a analistas de investimento que a situação é preocupante. Ele não afasta a possibilidade de que o país precise racionar o consumo, ainda que de forma "não declarada". Questionado, Zaroni evitou explicar como isso poderia ser feito. O executivo, que foi funcionário de Furnas, sugeriu que existem "formas não explícitas" de racionamento.

Na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o valor do megawatt-hora no mercado spot foi mantido nesta semana no valor máximo permitido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de R$ 822, 83 por MWh. Isso indica que a situação permanece crítica.

No quarto trimestre de 2013, a Tractebel precisou comprar megawatts-hora no mercado de curto prazo, a preços elevados, para cobrir suas posições, o que prejudicou seus resultados. O lucro líquido anunciado pela empresa na semana passada, de R$ 286 milhões no últimos três meses do ano, foi 23% inferior que o esperado pelo analista do Deutsche Bank, Leandro Cappa, por exemplo.

No entanto, a Tractebel já havia embolsado lucros generosos no começo de 2013, quando alocou um grande volume de energia, a preços também bastante altos. No início do ano passado, apostava-se que os preços iriam cair no segundo semestre. Mas não foi o que ocorreu. Essa mesma incerteza existe hoje. E a forma como as geradoras alocaram energia ao longo de 2014 também pode fazer diferença nos balanços este ano.

Na avaliação do presidente da Bolt Trading, Érico Evaristo, mesmo se chover, os preços continuarão altos, porque o país terá de despachar térmicas por todo ano. "E é bem provável que o mercado entre em março ainda no teto". Segundo Evaristo, estão previstas chuvas, mas precisaria chover em excesso para encher os reservatórios.

O Sudeste está sendo socorrido, neste momento, pela usina de Tucuruí, na região Norte, e por Itaipu. De acordo com Evaristo, juntas, as duas hidrelétricas estão abastecendo 20% do consumo nacional. Mas, a partir de abril, termina o período de chuvas na região Norte.

Hoje, o Operador Nacional do sistema (ONS) está despachando praticamente todas as térmicas. Essas usinas estão gerando 13,5 GW dos 70 GW consumidos pelo país, afirma o executivo da Bolt. (Valor Econômico)
Leia também:
ONS prevê melhora em reservatórios do país
O efeito dos atrasos nos repasses para a Eletrobrás
Meta fiscal gera expectativa com alta de combustíveis e energia