quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Conta de luz congelada

Após estrangular o caixa da Petrobras com o bloqueio do repasse ao mercado do custo real da gasolina, o governo decidiu, também em nome do controle da inflação, agravar o aperto financeiro do setor elétrico. Ao prorrogar em mais um ano, para janeiro de 2015, a entrada em vigor das bandeiras tarifárias, as distribuidoras correm o risco de comprar eletricidade cara, em razão do uso intensivo de termelétricas, e vender ao consumidor pelo preço fixado para 12 meses. O sistema permite o aumento da conta de luz automaticamente toda vez que a geração apresente custo maior para o distribuidor.

A perspectiva certa de prejuízos acena para a necessidade de mais socorro federal no próximo ano, via saques em fundos setoriais ou transferências do Tesouro. Para analistas do setor ouvidos pelo Correio, a “necessidade de aperfeiçoamento de regras” apresentada na terça-feira pela diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como justificativa técnica para anunciar o adiamento das bandeiras esconde a verdadeira intenção, de natureza política. O mercado estima que a alta nas tarifas em 2014 será de 0,1 a 0,3 ponto percentual no IPCA, o índice inflacionário oficial.

“O modelo das bandeiras foi definido no ano passado e vinha sendo experimentado há um ano. Pesou na decisão o receio de sinalizar aumentos de tarifa em pleno ano eleitoral, logo após a promessa de descontos”, comentou Andrew Storfer, diretor da América Energia. Ele lamentou que, com a postergação do sistema, o consumidor deixará de usufruir de informação transparente para ajudar a controlar seus gastos, e algumas empresas de distribuição vão correr risco de sobrevivência. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que a mudança na programação foi feita a pedido de diretores da Aneel.

Sem cobertura
Para piorar o quadro das concessionárias, o leilão de energia existente A-1, realizado na terça-feira, atendeu só 40% da necessidade de contratação das distribuidoras. Segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), as concessionárias podem sofrer perda no caixa de até R$ 5,6 bilhões, referentes à exposição no curto prazo. “Se continuar a acionar muitas térmicas no ano que vem, vamos ter uma situação complicada”, disse o presidente da entidade, Nelson Fonseca Leite. (Correio Braziliense)
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