quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O pulo do "gato" na conta de luz

Brasília e Rio- A partir de amanhã, a conta de energia dos consumidores da Light vai ficar, em média, 3,65% mais cara. Para as residências, que representam mais de 90% dos clientes da empresa, o aumento será de 4,68%. Na média, para os consumidores de baixa tensão, grupo que inclui residências e comércio, a tarifa vai subir 6,2%. Mas para a indústria vai cair 1,01%. A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou ontem a Terceira Revisão Tarifária da distribuidora. A revisão acontece a cada cinco anos, e, quando é aplicada, substitui o reajuste anual da conta de luz.

Em agosto deste ano, quando publicou a proposta de revisão tarifária, a Anee! previa uma redução média das tarifas da Light de 3,3%. Para as residências, haveria uma queda da conta de luz de 3,28%;, § no caso da indústria a redução seria ainda maior, de 6,7%. No entanto, essas reduções não foram possíveis devido, principalmente, a dois fatores: perdas da empresa com furto de energia ("gatos") e gasto com compra de energia maior do que o previsto inicialmente. O aumento da compra de energia chegou a 8,89% sobretudo por causa da contratação de energia nova; gastos com energia de Itaipu, que é cotada em dólar; e despesas com usinas termelétricas. Estas últimas terão maior impacto no próximo ano.

As perdas da Light com furto de energia, calculadas com base em uma nova metodologia, chega: ram a 40,41% do total distribuído, acima dos : 31,37% estimados com base na metodologia anterior. Segundo a Aneel, o aumento das perdas com os "gatos" foi uma das principais razões para o reajuste das tarifas. Até a próxima revisão tarifária, em 2018, a empresa terá que reduzir estas perdas. Por isso, a Aneel quer aplicar nas áreas de baixa renda do Rio a tarifa social, como uma forma de estimular a adimplência e reduzir o furto de energia. Em janeiro de 2013, quando o governo retirou vários encargos da conta de luz de todas as distribuidoras de energia do país, a tarifa da Light teve uma redução de 18,1%.

No voto que serviu de base à revisão aprovada ontem, o diretor da Aneel Edvaldo Santana, relator da matéria, afirmou que "um dos grandes problemas para as perdas de energia não-técnicas ("gatos") da Light está no pouco incentivo | para os consumidores permanecerem regularizados, dado que a tarifa, como os consumidores não são enquadrados na tarifa social, é elevada" A diretoria da Aneel determinou que a empresa apresente no prazo de até 180 dias proposta de tarifes para os consumidores pertencentes a comunidades pacificadas e ou que estejam em regiões de perdas maiores do que 30%.

No Ceará, como exemplificou Edvaldo Santana, cerca de 50% das unidades consumidoras residenciais são enquadradas como baixa renda, com direito a tarifa social, o que assegura um razoável desconto na conta. Já na área da Light, menos de 4% das unidades consumidoras residenciais são classificadas como baixa renda. Para o diretor geral da Aneel, Romeu Rufino, em algumas áreas, como a da Light e a da Amazonas Energia, distribuidora que atende o estado do Amazonas, o furto de energia é um problema que não pode ser resolvido somente pela concessionária, "precisa haver uma conscientização da sociedade e um esforço do Estado":

— Vai muito além da questão tarifária. A perda não-técnica ou roubo de energia elétrica passa a ser um problema de política pública.

O presidente da Light, Paulo Roberto Pinto, que participou da reunião de diretoria da Aneel, falou das preocupações da distribuidora com "gatos" e perdas nas áreas que apresentam problemas de segurança. Também disse que, nos próximos dois anos, a concessionária terá que fazer investimentos ainda maiores por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas. — A Light vai reduzir as perdas técnicas. Já há um compromisso dos acionistas de investir R$ 1,250 bilhão nos próximos cinco anos. Pode confiar, vamos reduzir as perdas no próximo ciclo de revisão tarifária (cinco anos) — garantiu.

"BANDEIRADA" EM 2014 - IMPACTO PEQUENO NA INFLAÇÃO
O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, explicou que o que vai influenciar a inflação são os 6,2% aplicados às tarifas residenciais e ao comércio, uma vez que o IPCA, taxa oficial de inflação do país, reflete a variação de preços para os consumidores. Segundo ele, o percentual não foi alto e ficou dentro do previsto. Luiz Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, lembrou que o impacto sobre a inflação será parcial, porque parte do Estado do Rio tem energia fornecida pela Ampla, que não teve aumento este mês. Além disso, a nova tarifa da Light só entrará em vigor amanhã:

— Como são duas empresas, é como se fosse um aumento de 3,2%. Três quartos dele serão captados em novembro e um quarto, em dezembro. O impacto desse reajuste sobre o IPCA será irrisório: 0,01 ponto percentual. A Light presta serviço para quatro milhões de unidades consumidoras em 31 municípios da Região Metropolitana do Rio, incluindo a capital. Ela atende a quase 7% do mercado de consumo total de energia do Brasil.

A primeira revisão tarifária da Light foi realizada em 2003, quando houve redução de tarifas das contas das residências de 2,14% e da indústria entre 10,01% e 5,85%, dependendo da tensão. Na segunda revisão, em 2008, as tarifas dos clientes residenciais caíram 3,29%, e as das indústrias, entre 7,40% e 4,44%. Em novembro de 2012, a tarifa de energia da Light aumentou, em média, 12,27%. O reajuste para as residências foi de 11,85% e o da indústria, de 13,20%. (O Globo)
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