quarta-feira, 15 de maio de 2013

Empresas mais cautelosas nas concessões elétricas

Empresas nacionais e estrangeiras, inclusive estatais, atuaram com muita cautela no leilão de transmissão de energia promovido na semana passada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esse foi o contraste em relação aos leilões anteriores, quando os candidatos aceitavam enormes deságios para não perder as oportunidades oferecidas no setor de eletricidade. Desta vez, quatro dos dez lotes oferecidos não tiveram pretendentes. 

Não houve lances de tradicionais. investidores em transmissão, como as estatais Furnas, Chesf e Eletronorte, "orientadas pelo governo", segundo um diretor da Aneel, Julião Coelho. Faltaram interessados para 916 km de linhas de transmissão, localizadas em regiões prósperas do interior paulista, como as linhas Araraquara-Itatiba e Araraquara-Fernão Dias. O deságio de 11,96%, em média, foi inferior ao das licitações anteriores. Enquanto um novo leilão não for realizado, serão adiados investimentos da ordem de R$ 1 bilhão, com geração de 3 mil vagas. 

A exploração de linhas de transmissão sempre foi considerada uma modalidade de aplicação com baixo risco e rentabilidade certa. Mas o governo fixou a remuneração máxima em 5% ao ano e, na prática, o custo médio do capital foi de 4,6% ao ano (calculado sobre a Receita Anual Permitida). Como afirmou ao Estado o consultor Humberto Gargiulo, da Upside Finanças Corporativas, "a remuneração não cobre o risco dos empreendimentos". O professor Nivalde Castro, da UFRJ, foi além: "O resultado pode indicar desajustes no modelo, pois os leilões de transmissão sempre foram um bom medidor de temperatura do ambiente regulatório". 

Em parte, o risco se deve a dificuldades ambientais e fundiárias. Algumas linhas licitadas são necessárias para o escoamento da energia das usinas do Rio Madeira, ainda não ligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de transmissão. Só a Aneel considerou "satisfatório" o resultado do leilão. Mas apenas as espanholas Abengoa e Isolux, além da Neoenergia e de um consórcio formado pelas empresas Bimetal Indústria Metalúrgica e Engeglobal Construções, foram vencedoras. 

A política de modicidade tarifária defendida por Dilma Rousseff quando era ministra da Energia e praticada agora, como presidente, afasta os Investidores. É provável que, no futuro, sejam maiores as dificuldades de oferta de energia hidráulica, obrigando o País a consumir energia cara e mais poluidora, como já ocorre. (O Estado de S. Paulo / Editorial)

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