segunda-feira, 26 de agosto de 2013

State Grid mantém aposta no país

Três anos depois de chegar ao Brasil, a gigante elétrica chinesa State Grid ainda considera as bases da economia brasileira e o modelo do setor elétrico consistentes, apesar da deterioração do cenário macroeconômico do país e das recentes reviravoltas regulatórias do mercado de energia. A companhia mantém o plano de investir R$ 10 bilhões no Brasil até 2015, mas avalia que o governo precisa melhorar as condições de atratividade das concessões de geração e transmissão de energia que serão leiloadas a partir deste semestre. Ela pode estrear em geração com a usina de Sinop, que será leiloada na sexta-feira, em parceria com a Copel. 

Desde que aportou no país, a companhia já desembolsou R$ 7 bilhões. A maior parte dos recursos foi gasta na aquisição de 12 linhas de transmissão, sendo sete da Plena Transmissoras e cinco da espanhola Actividades de Construcción y Servicios (ACS), totalizando quase 6 mil quilômetros, e na compra de um prédio inteiro na avenida Presidente Vargas, uma das mais importantes do Centro do Rio de Janeiro. O restante dos recursos previstos para serem investidos nos próximos dois anos é destinado principalmente aos projetos de transmissão que a companhia arrematou em leilões realizados em 2011 e 2012. O mais importante deles é a linha que conectará o complexo hidrelétrico de Teles Pires (MT) com o Sistema Interligado Nacional (SIN), de 1,620 km, em 500 quilovolts. A empresa tem 51% do empreendimento, em parceria com a elétrica paranaense Copel (49%). 

A State Grid aguarda para outubro a licença de instalação para a construção do segundo trecho da linha, de 624 km, nos Estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Segundo o presidente da State Grid no Brasil, Cai Hongxian, o licenciamento do projeto já dura um ano e meio. "Não estou reclamando das questões ambientais. Elas são necessárias. Mas se o governo determinou que se faça um projeto, ele é mandatório. Todas as áreas têm de trabalhar para que o investidor possa fazer o projeto" afirmou o executivo, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. 

Hongxian lembra que o volume de investimentos da companhia no Brasil pode aumentar além do planejado, caso ela feche algum novo negócio ou adquira novas concessões de geração e transmissão no país. O foco declarado da State Grid no curto prazo é o sistema de transmissão que escoará a energia da hidrelétrica de Belo Monte para o Sudeste, de 800 quilovolts, nível de tensão inédito no Brasil. A linha terá mais de 2 mil km de extensão. O executivo confirma que pretende disputar a concessão da hidrelétrica de Sinop (MT), de 400 MW, no rio Teles Pires, com a Copel. A usina será ofertada no leilão do tipo A-5 (que negocia contratos com início de entrega de energia em cinco anos), que acontecerá na sexta-feira. A ideia é que os chineses sejam líderes do consórcio com 51% de participação. 

Apesar do apetite por novos projetos no Brasil, a State Grid pisou no freio no primeiro semestre. Ela decidiu se concentrar no desenvolvimento dos projetos de sua carteira. Mas outro motivo foi a baixa atratividade dos dois primeiros leilões de linhas de transmissão de 2013. Segundo Hongxian, o nível de remuneração e de rentabilidade dos projetos que são oferecidos nos leilões precisa acompanhar a elevação dos custos de construção e de desapropriação nos últimos anos no país. Para ele, o governo pode propor preços mais altos, porque a própria concorrência entre as empresas vai fazer com que eles sejam reduzidos, beneficiando o consumidor. 

Embora os setores de energia eólica e solar também estejam no radar da elétrica chinesa, Hongxian avalia que ainda não é o momento de investir nestes projetos no país. Segundo ele, o preço da energia eólica no Brasil, na faixa de R$ 100/MWh, é praticamente a metade do valor que a companhia pratica na China. "Precisamos ainda aprender a desenvolver esses recursos no Brasil." A State Grid também avalia oportunidades de aquisição de distribuidoras. Hongxian, porém, assegura, que o grupo Rede e as distribuidoras da Eletrobras não são os ativos mais interessantes para a empresa. A companhia ainda está em processo de aprendizagem no país e não quer tomar riscos elevados. O ideal é adquirir distribuidoras com situação econômico financeira equilibrada e bom nível de qualidade de serviço. 

A State Grid também tem apoiado a vinda de outras empresas do conglomerado chinês para o Brasil. Há alguns meses, a Nari Technology Development ramo de automação industrial com destaque para sistemas de controle de rede, instalou uma base em São Paulo. A empresa planeja investir US$ 20 milhões nos próximos anos no país. Outra é a Xuji Group, que adquiriu 51% da fabricante de medidores de energia Nansen e investirá outros US$ 20 milhões em sua unidade em Minas Gerais.(Valor Econômico)
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