sexta-feira, 28 de setembro de 2012

BC projeta preços sob pressão, apesar de energia mais barata

A revisão de projeções divulgada ontem pelo Banco Central indica que o impacto da energia mais barata sobre a inflação de 2013 será neutralizado, em grande medida, por pressões inflacionária antes não consideradas, ou maiores do que imaginava a autoridade monetária há três meses. Isoladamente, a redução do custo da energia provocará deflação de 0,5%. Ainda assim, a variação projetada para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu só 0,1 ponto percentual no novo relatório trimestral de inflação.

No cenário de referência, a inflação esperada para o próximo ano recuou para 4,9%. No cenário de mercado, caiu para 4,8%. Mas em ambos, a revisão foi de igual magnitude. O primeiro cenário pressupõe juro básico parado em 7,5% ao ano e taxa de câmbio também constante, em R$ 2,05. O segundo leva em consideração a trajetória prevista pelo mercado para juros e câmbio (juros sobem, câmbio cai).

O BC não apontou com exatidão o que neutralizará parte do efeito desinflacionário esperado em função da redução nas tarifas de energia elétrica a partir do ano que vem. O diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, sugeriu que um fator poderia ser a aceleração do Produto Interno Bruto em 2013. "Um risco desfavorável é a economia crescer muito mais do que está no nosso cenário", disse. Isso não esclareceu, no entanto, a resistência da inflação dentro do cenário de crescimento econômico já previsto. Não foi dito se o nível esperado de aceleração do PIB representará pressão adicional sobre a inflação em 2013.

A projeção de avanço do PIB para o próximo ano não foi fornecida. A variação projetada para os 12 meses que terminarão em junho de 2013 aponta patamar ainda modesto de crescimento, de 3,3%. Embora seja uma taxa bem melhor que a deste ano, ainda é um desempenho abaixo do produto potencial. Para este ano, o BC projeta crescimento de 1,6%. No relatório anterior, a expectativa era de 2,5%. A nova projeção colocou por terra o caráter de "piada" atribuído pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, à previsão do Credit Suisse, que em junho já falava em 1,5%.

Os números do BC indicam que o crescimento da economia continuará sendo puxado pelo consumo das famílias, cuja expansão em 12 meses será de 3,3% este ano e de 4,2% até junho de 2013. O consumo do governo crescerá 3,6% e os investimentos produtivos, somente 1,4%.

As projeções para o investimento em 2012 apontam queda de 2,2% - e não mais alta de 1%, motivo principal da revisão do crescimento do PIB. Pressupõe-se, portanto, alguma melhora do quadro até junho de 2013.

A taxa de crescimento do consumo do governo, conforme as projeções do BC, deve crescer de 2,2%, em junho passado, para 3,7% em dezembro deste ano. Até junho de 2013 recuará, mas pouco, para 3,6%. O BC manteve a hipótese de que o setor público não financeiro fechará neste ano e no próximo com superávit primário em torno de 3,1% do PIB.

Olhando sob a ótica da oferta, o BC vê recuperação mais forte do setor agropecuário. O setor encerrará 2012 com retração de 1,4%, porém, deverá exibir taxa de crescimento de 4,8% no período a ser encerrado em junho de 2013. No caso da indústria, a taxa será negativa em 0,1% em 2012, mas subirá para 2% até fim do primeiro semestre do ano que vem. O setor de serviços, por sua vez, deverá crescer 2,2% e 3,3%, respectivamente.

Retomando o tema inflação, o Araújo citou a perspectiva de recuo do preço das commodities agrícolas - vilãs da inflação em 2012. Ele acha que os preços agrícolas internacionais tenderão a recuar com a normalização das condições nos Estados Unidos, onde problemas climáticos provocaram quebra da safra de grãos, em especial soja e milho.

Os possíveis efeitos da desoneração da folha de salários de 40 setores da economia não foram incorporados às projeções de inflação apresentadas no relatório, disse Araújo, mas ele acredita que poderá haver impacto ainda em 2013, contribuindo para reduzir custos e preços.

Embora já capturada pela inflação no atacado, o aumento das commodities agrícolas ainda não se refletiu totalmente nos preços ao consumidor, acrescentou o diretor. A perspectiva, no entanto, é que o repasse se complete ainda em 2012. Portanto, tal choque não ajuda a explicar por que a inflação projetada para 2013 não cai tanto quanto permitiria o efeito isolado da queda do custo da tarifa de energia.

O mesmo vale para a depreciação cambial vista nos últimos 12 meses, segundo ele "de 25% a 30%". Pode haver algum efeito defasado em preços ao consumidor, mas ainda este ano, e não em 2013. O diretor sinalizou que o BC trabalha com relativa estabilidade da taxa de câmbio daqui para frente, ao dizer que não espera desvalorização da mesma magnitude nos próximos 12 meses.

Por causa da taxa de câmbio e, sobretudo, das commodities agrícolas, a inflação projetada para o IPCA em 2012 subiu, passando de 4,7% para 5,2% nos dois cenários apresentados. As trajetórias previstas no relatório indicam que, em 2013, a inflação chegará muito perto do centro da meta do governo (4,5%) ao fim do terceiro trimestre (4,6% e 4,5%, respectivamente). Porém, voltaria a subir no último trimestre do ano.

Pelo menos até o fim do terceiro trimestre de 2014, horizonte final das projeções, a variação do IPCA em 12 meses não volta para o centro da meta.

Perguntado se o BC estaria disposto a retomar a alta de juros para acelerar o retorno da inflação à meta, Araújo respondeu que a boa prática não recomenda esse tipo de reação quando a causa do aumento ou resistência da inflação é um choque de oferta. Para 2012, nem adiantaria, dada a defasagem com que a política monetária produz efeitos. Por outro lado, admitiu que "o espaço para continuidade do movimento de queda de juros vai se estreitando", disse. (Valor Econômico)

Leia também:
Governo não pretende alterar prazo na MP579
Ativos do Grupo Rede são disputados por Cemig e J&F
Novas regras do setor elétrico devem incentivar fusões no médio prazo
Geradores defendem detalhamento de condições antes de optarem por renovar concessões