segunda-feira, 28 de maio de 2012

Conta na distribuição vira queda de braço

Um dos pilares para o avanço da geração solar distribuída no País ainda começa a dar seus primeiros passos no País. A rede inteligente, mais conhecida no mercado como smart grid, ainda está à espera de regulamentação para que seja efetivamente colocada em prática e torne a rede de distribuição mais eficiente. Por enquanto há diversas iniciativas isoladas de distribuidoras espalhadas pelo País e a questão que ainda precisa ser respondida é quem vai pagar a conta para que esses equipamentos possam ser colocados no mercado: o governo ou as distribuidoras. E os consumidores, principalmente os grandes, devem assistir a toda essa discussão de camarote. 

Pelas contas da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), a implantação das duas tecnologia elevaria a conta em 10%, decorrência dos investimentos anuais de cerca de R$ 4 bilhões a serem feitos pelas companhias. 

Apesar disso, de acordo com o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, ainda não há prazo para que haja uma definição sobre como se dará a implantação da rede inteligente, fator que levaria a uma grande expansão de painéis fotovoltaicos pelos consumidores, uma vez que o relógio de medição do consumo teria a capacidade de medir entrada e saída de energia na rede. 

“Em primeiro lugar fizemos um estudo com simulações para a contratação descentralizada. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) colocou em audiência publica a questão da adoção do medidor inteligente. Com esse equipamento fica viável a compra e a venda de energia por qualquer consumidor, pois pode mandar para a rede o que gerar em casa, o que estimula a adoção de painéis solares. Porém, como esses equipamentos têm custo deve levar um certo tempo para serem implantados”, disse ele, que faz parte de um grupo de trabalho que estuda o assunto. 

O tema, aliás, começa a fazer parte do cotidiano de comunidades específicas, mas em iniciativas pontuais enquadradas como projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), elaboradas por distribuidoras e previstas pela Aneel no contrato de concessão. 

Empresas como AES Eletropaulo, Light, Cemig, entre outras têm discutido cada vez mais o assunto para melhorar a eficiência do setor de distribuição de energia no Brasil. Um dos maiores problemas da rede no Brasil são as perdas técnicas e, principalmente, as não técnicas, as fraudes, mais conhecidas como ‘gatos’. Dependendo da distribuidora esse indicador pode chegar a 20% da energia total distribuído. 

A concessionária paulistana, por exemplo, iniciou recentemente um projeto que instalará uma plataforma de medição inteligente em mil clientes no bairro Morro Doce, na cidade de São Paulo. Essa foi a primeira etapa do projeto, concluída em abril. A companhia terá até abril de 2013 para coletar as informações dos clientes para avaliação da ação. 

Já no caso da Light, que atende o Rio de Janeiro, segunda maior cidade do País, o projeto a ser implantado já atende a um maior número de consumidores e trata de alterar a forma como trabalha a gestão da rede, outra frente de atuação do smart grid. A companhia fluminense – que tem controle da Cemig – deve iniciar em breve o gerenciamento de seus cinco centros de distribuição e de subtransmissão por meio da adoção de um sistema desenvolvido pela francesa Alstom. 

De acordo com Ricardo Hering, Diretor de Automação do setor Grid da Alstom para a América Latina, esse sistema é um dos maiores do País e terá capacidade de gerenciar 800 mil pontos da rede da empresa, tanto aérea quanto subterrânea, a mesma que apresentou explosões seguidas em bairros cariocas. 

Outra que tem planos no Brasil é a alemã Siemens que vai instalar seu primeiro centro de P&D voltado às smart grid na América Latina. Numa primeira etapa, o centro trabalha no desenvolvimento de softwares e soluções de tecnologia da informação para a gestão e automação de sistemas de energia. A iniciativa faz parte do pacote de US$ 600 milhões em investimentos anunciados para pesquisa e expansão da capacidade produtiva no País. 

A atividade da Alstom no setor de P&D foi retomada em 2010 com a aquisição da divisão da Areva para esse negócio em parceria com a Schneider Electric. Esse avanço tem algumas explicações, entre elas a principal é a perspectiva de crescimento do gerenciamento inteligente no setor de distribuição. Segundo o diretor de Assuntos Regulatórios, Políticas e Relações Industriais em Smart Grid, Lawrence Jones, as estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial apontam para o incremento no número de pessoas no planeta em 1 bilhão de pessoas até 2025. Esse aumento, que poderá chegar a 3 bilhões ao final do século traz desafios de fornecer alimentos e, consequentemente, mais energia para a produção que pode encontrar respostas na geração distribuída e que será implementada por meio das redes inteligentes. 

Mas, para isso, as políticas devem ser de longo prazo. Segundo Jones, a implantação de redes assim encontra ambiente favorável em poucas regiões do planeta e cita além do Brasil (e outros países dos Brics), os EUA, Canadá, e alguns países da Europa.Por essa razão Para o presidente da EPE, o Brasil não está tão atrasado quanto outros países. 

O problema, cita Jones, ainda paira sobre o custo de implantação da infraestrutura para viabilizar a rede inteligente, até mesmo em países desenvolvidos e em grades cidades, pelo enorme número de ligações existem. Esse ponto foi citado também pela Abradee em um evento realizado em Campinas sobre o tema. Segundo a associação, a modernização da rede e o custo extra – que será gerado para subsidiar descontos na tarifa de transmissão dados a quem implantar pontos de microgeração, como placas solares ou mini turbinas eólicas – levaria a uma necessidade de aportes totais de R$ 91,1 bilhões, dois terços de responsabilidade das concessionárias e o restante por meio de subsídios que seriam concedidos pelo governo. (DCI)


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