sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Smart Grid um grande negócio

A esperada regulamentação da Aneel para os medidores inteligentes só ocorrerá em outubro. Mas já há um universo de negócios aguardando essa que pode ser a porta de entrada do smart grid no Brasil. De um lado, a possibilidade de ganhos de eficiência move distribuidoras. Na outra ponta, fabricantes de equipamentos fazem planos para o país. Este mercado pode movimentar R$ 8 bilhões em 2012, o dobro do previsto para este ano.
 
O terceiro ciclo de revisão tarifária, que promete ser mais exigente em relação à qualidade do atendimento, é mais um ingrediente na prometida receita de sucesso das redes inteligentes. Eletrobras, CPFL Energia, Enersul, AES Eletropaulo, Bandeirante, Light, Cemig, Copel e Celesc já divulgaram projetos. A ênfase ainda é automação. Mas há também quem esteja de olho na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.

Os fornecedores, por sua vez, planejam fábricas no país. A ideia é montar centros de competências, visando também o restante do mercado latinoamericano, ainda engatinhando nessa área.

A preparação da rede para receber a enxurrada de projetos eólicos previstos para os próximos anos é outro vetor de aceleração. Por ser sazonal e intermitente, o escoamento dessa fonte de produção exige maior sofisticação no monitoramento da malha elétrica. Seria um primeiro passo antes da conexão de microgeração distribuída a partir de painéis solares e carros elétricos, um degrau ainda distante.

Malas prontas
Para o presidente do Fórum LatinoAmericano de Smart Grid e vicepresidente da Enersul, Cyro Boccuzzi, o Brasil já se tornou a “bola da vez” em smart grid. Prova disso são os planos de fornecedores de tecnologia de se instalarem no país. Se antes havia uma concentração de investimentos nos Estados Unidos, agora os projetos estão em andamento e as empresas buscam novos mercados.

A Venty, braço da ABB para o segmento, é uma delas. A companhia está se estruturando no Brasil e aplicando recursos em capacitação local. O objetivo é montar um centro de excelência para atendimento da América Latina. “Estamos vendo as coisas acontecerem, independente do processo regulatório associado à medição eletrônica”, confirma Roberto Falco, da empresa.

A empresa pretende trazer softwares para otimização de tensão e reativos, além de tecnologia envolvendo lógica de identificação, isolamento e restauração automática de falhas na rede.

Softwares também são o foco principal da General Electric. A aposta inicial é um aplicativo de gestão de fornecimento de energia. A empresa vai anunciar ainda este ano a instalação de uma nova planta no Brasil para produção de equipamentos dedicados a redes inteligentes com conteúdo local. “Será uma terceira fábrica que reforçará nossa atual capacidade instalada em Campinas (SP) e Contagem (MG)”, afirma o gerente de Marketing da filial brasileira, Marcelo Prado.

A Siemens, por seu lado, apostará em projetos de automação, segundo o gerente de Smart Grid da companhia, Sérgio Jacobsen. A empresa desenvolve para o ONS, junto com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da Eletrobras (Cepel), uma atualização dos sistemas dos quatro centros de comando e controle da entidade, sendo um principal e três regionais.

Na ponta dos dedos
Os projetos de smart grid desenvolvidos atualmente pelas distribuidoras vêm trazendo retorno. Eles envolvem automação, recuperação de perdas e aumento da confiabilidade, entre outros benefícios.

A Enersul, por exemplo, implanta um grande projeto de automação, com instalação de religadores operados remotamente – já são 400 – e colocação de medidores em propriedades rurais, num total de 39 mil unidades. “Manobramos a partir do centro de controle, em vez de fazer uma equipe se deslocar por 300 km ou 400 km para operar uma chave”, descreve o vicepresidente Executivo da companhia, Cyro Boccuzzi.

A Eletrobras está empenhando R$ 700 milhões em suas distribuidoras, visando a recuperação de perdas, problema histórico das empresas do grupo. Em Parintins, no Amazonas, serão instalados sensores para identificação de falhas no abastecimento. Também haverá troca de medidores de 14.500 clientes.

A AES Eletropaulo contratou um projeto de P&D tocado pela General Electric em parceria com a Trilliant, envolvendo medidores eletrônicos com comunicação sem fio ao centro de gerenciamento da distribuidora paulista.

Na Copel serão investidos R$ 500 milhões em programa de automação, incluindo também a conexão de transformadores por meio de fibra ótica.

Já a Cemig, em conjunto com a Fapemig e com parte dos recursos cedidos pela Agência Americana para o Comércio e Desenvolvimento (USTDA), vai implantar um projeto piloto de redes inteligentes envolvendo 2 mil clientes. No mesmo pacote foi incluída a Light, em áreas “pacificadas” pelo governo do estado. No total, o desembolso somará R$ 65 milhões. Ainda no estado do Rio, a Ampla assinou convênio para instalação de rede inteligente no balneário de Armação dos Búzios (RJ).

A CPFL Energia acertou com a IBM um trabalho de modernização de redes com horizonte de realização até 2013. Custará R$ 215 milhões. A primeira etapa está voltada para telemedição de clientes industriais e comerciais, com aplicação de 25 mil medidores inteligentes.

A distribuidora sediou em julho um encontro da Global Intelligent Utility Network Coalition (GIUNC), iniciativa liderada pela IBM e que agrega um grupo de empresas de energia que se reúnem semestralmente em diferentes países. A IBM está envolvida em sete dos 11 maiores projetos de medição inteligente de energia. (Revista Brasil Energia)

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